Jornal DR1
Samba-Enredo 1989 – Beija-Flor de Nilópolis
Reluziu… É ouro ou lataFormou a grande confusãoQual areia na farofaÉ o luxo e a pobrezaNo meu mundo de ilusãoXepá, de lá pra cá xepeiSou na vida um mendigoDa folia eu sou rei.Sai do lixo a nobrezaEuforia que consomeSe ficar o rato pegaSe cair urubu come.Vibra meu povoEmbala o corpoA loucura é geral (é geral)Larguem minha fantasia, que agoniaDeixem-me mostrar meu CarnavalFirme… Belo perfilAlegria e manifestaçãoEis a Beija-flor tão lindaDerramando na avenidaFrutos de uma imaginaçãoLeba – larô – ô ô ô ôÉbo – lebará – laiá – laiá – ô
O enredo da Beija-Flor, criado pelo carnavalesco Joãosinho Trinta, é uma crítica social que utiliza os conceitos de lixo e de luxo como metáforas para questionar temas como política, sexo e religião. “É a primeira censura das autoridades a uma alegoria de escola de samba e para nós foi chocante, pois quisemos homenagear o Cristo como símbolo da cidade do Rio de Janeiro, num pedestal, em que os pobres e os mendigos estão ali representados alegoricamente. Quisemos reverenciar o Cristo não apenas como redentor, mas como símbolo da tolerância e da fraternidade com os mais carentes, o que reflete uma realidade do nosso país, em que o luxo convive com o lixo alegoricamente, mas, lamentavelmente, não fomos compreendidos.”
— Joãosinho Trinta (1933 – 2011), sobre a censura ao “Cristo mendigo”