Escritora, educadora e pioneira do abolicionismo literário no Brasil, sua obra enfrentou o racismo, o machismo e o esquecimento para hoje ser reconhecida como marco da literatura nacional
A escritora Maria Firmina dos Reis nasceu em 11 de março de 1822, em São Luís, no estado do Maranhão. Por isso, o 11 de março, em sua homenagem, é o Dia da Mulher Maranhense. Era filha da escrava alforriada Leonor Felipa dos Reis e, possivelmente, de João Pedro Esteves, um homem rico da região. Além de escritora, foi professora primária, de 1847 a 1881, e musicista.
Úrsula, sua obra mais conhecida, foi publicada em 1859, com o pseudônimo de Uma Maranhense. A partir daí, Maria Firmina dos Reis passou a escrever para vários jornais, nos quais publicou alguns de seus poemas. Escreveu uma novela, um conto, publicou um livro de poesias, além de composições musicais.
Em 1880, adquiriu o título de mestra régia. Nesse mesmo ano, criou uma escola gratuita para crianças, mas essa instituição não durou muito. Por ser uma escola mista, a iniciativa da professora, na época, provocou descontentamento em parte da sociedade do povoado de Maçaricó. Assim, a escritora e professora entrou para a história como a fundadora, segundo Zahidé Lupinacci Muzart (1939-2015), da “primeira escola mista do país”. Já aposentada, continuou lecionando em Maçaricó para filhos de lavradores e fazendeiros”
Morreu em 11 de novembro de 1917. Segundo José Nascimento Morais Filho (1882-1958), estava cega e pobre. Sua obra ficou esquecida até 1962, quando o historiador Horácio de Almeida (1896-1983) colocou a escritora em evidência. Recentemente, as pesquisas sobre a vida e obra de Maria Firmina dos Reis e a divulgação do seu nome intensificaram-se, e, aos poucos, a escritora vai sendo integrada ao cânone literário brasileiro.”
Maria Firmina dos Reis viveu no contexto histórico do século XIX no Brasil. Apesar de estar distante do Rio de Janeiro, centro político do país naquele século, também sofreu a influência dos acontecimentos históricos nacionais, como bem demonstram suas obras. A autora está, portanto, inserida no contexto que propiciou o surgimento e desenvolvimento do romantismo no Brasil.
O primeiro fato histórico, nesse sentido, ocorreu em 1815, quando o Brasil deixou oficialmente a sua condição de colônia e transformou-se em reino governado por d. João VI (1767-1826). Como evolução desse acontecimento, anos depois, em 1822, ocorreu a independência do Brasil, proclamada por d. Pedro I (1798-1834), o que estimulou o sentimento nacionalista nos artistas e permitiu o surgimento, em terras brasileiras, do romantismo.
Outro fato histórico que influenciou a escrita romântica foi o surgimento dos movimentos abolicionistas, que levaram à promulgação de leis como a Lei Eusébio de Queirós (1950), que proibia o tráfico de escravos; a Lei do Ventre Livre (1871), que decretava a liberdade dos filhos de escravas que nascessem a partir da data de sua promulgação; a Lei dos Sexagenários (1885), que dava a liberdade aos escravos com 60 anos ou mais; e, por fim, a Lei Áurea (1888), que aboliu a escravidão no país.