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Deleite Linguístico: O dia em que o tiraram o assento do juiz

Foto: Marcelo Casal Jr/ABr

Quem assistiu ao telejornal, soube que um juiz teve sua aposentadoria compulsória, fruto de uma atitude que levaria qualquer outro cidadão ao banco dos réus. Como meu foco é a linguística, ater-me-ei ao acento agudo que muitas pessoas acreditam ser empregado sobre a vogal i na palavra juiz. O mais provável motivo dessa situação é a regra de acentuação gráfica sobre a vogal tônica I (s) ou U (s) quando essas vogais formarem um hiato (encontro de vogais em diferentes sílabas) com a sílaba anterior. Isso é uma regrinha que nos foi passada há anos por nossa professora primária. Mas como nossa memória pode nos pregar peças que aqui não são os documentos (petições iniciais) que aquele juiz analisava para dar uma sentença judicial, vamos recordar o que diz a gramática da língua portuguesa.

É simples. Vejam só, meus caros leitores!

Se as letras I e U tônicas e seus respectivos plurais forem antecedidas de uma vogal (pertencente à sílaba anterior), o usuário da língua deverá acrescentar um acento, que não pode ser confundido com o homônimo homófono assento (não mais usado pelo juiz recém-aposentado), sobre aquelas vogais I e U tônicas.

Para facilitar nossa apresentação, fornecer-lhes-ei alguns exemplos. Ei-los: aí, sa -í-da; sa – ú -de, ju-í-zes, bala-ús-tre, contraí-la, instruí-lo. Repararam que até os verbos que estejam ligados a clíticos (assunto para outra crônica linguistica) obedecem à regra? 

Diante disso e sabedores dessa regra, fica inviável empregar o acento agudo em JU-IZ. Não foi simples? Mas isso não é tudo! Na sequência, explicitarei os detalhes que podem levar qualquer habilidoso usuário da língua ao erro e à punição (que não será excelente como a do magistrado supracitado). Várias bancas examinadoras, por exemplo, adoram criar pegadinhas para eliminar candidatos desatentos. Mas vamos às situações! Se essas mesmas vogais I e U tônicas estiverem seguidas de NH, o acento será compulsoriamente eliminado. 

Vejam estes exemplos: ra-i-NHa, campa-i-NHa, mo-i-NHo. Para ilustrar a fonte segura de onde retiro esse ensinamento, transcrevo o parágrafo 4º da Base X do Acordo Ortográfico de 1990, que diz o seguinte: “4º Prescinde-se do acento agudo nas vogais tônicas grafadas ‘i’ e ‘u’ das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: ‘baiuca’, ‘boiuno’,‘cauila’ (var. ‘cauira’), ‘cheiinho’ (de ‘cheio’), ‘saiinha’ (de‘saia’).” Ou seja, se um ditongo aparecer, antes das vogais I e U tônicas, o acento não será usado. Pois será tamanha FEI-Ú-RA vê-lo no texto. Fácil não é? Como somos reles mortais, tenhamos JU-Í-ZO (I tônico que forma hiato com a vogal U, da sílaba anterior) para não cometermos ações que nos prejudicariam.

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