Faleceu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon, uma das cientistas mais influentes do Brasil. A informação foi divulgada nas redes sociais do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, local que recebeu sua maior dedicação acadêmica e afetiva. A causa da morte não foi informada.
Com uma trajetória marcada pela coragem, pelo pioneirismo e pela defesa intransigente da ciência e da cultura, Niède Guidon tornou-se uma das maiores referências mundiais em arqueologia. Foi ela quem revelou ao mundo as pinturas rupestres da Serra da Capivara, que mudaram profundamente a compreensão sobre o povoamento das Américas.
“Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil. Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país”, diz a nota oficial do parque.
Desde 1973, quando chegou à região semiárida do sudeste piauiense, Niède liderou uma revolução não apenas científica, mas também social e ambiental. Através da FUMDHAM, desenvolveu projetos de pesquisa, preservação e educação, garantindo o sustento e a valorização de comunidades locais. Também lutou incansavelmente pela criação de políticas públicas que assegurassem a conservação do parque e dos sítios arqueológicos.
Ao longo da carreira, identificou mais de 700 sítios pré-históricos, entre os quais 426 painéis com pinturas rupestres datadas de até 12 mil anos, além de fósseis e ferramentas que desafiaram as teorias predominantes sobre a ocupação humana do continente americano.
Entre os inúmeros prêmios que recebeu, destaca-se o Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2024, uma das mais importantes honrarias da ciência nacional, concedida pelo CNPq, MCTI e Marinha do Brasil. Ela também foi agraciada com a Ordem do Mérito Científico (Grã-Cruz), o Prêmio Príncipe Klaus (governo holandês), o Green Prize, da organização Paliber, o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura e o título de Chevalier da Légion d’Honneur, do governo francês.
A escritora Adriana Abujamra, autora do livro Niède Guidon — Uma Arqueóloga no Sertão, destaca o impacto transformador de sua presença no Piauí.
Ela proporcionou uma revolução das mulheres. Contratou apenas mulheres como porteiras do parque, incentivou lideranças femininas e inspirou novas gerações. Falava em proteção do meio ambiente numa época em que quase ninguém falava sobre isso”, afirmou.
Em nota, o governo do Piauí afirmou que Niède transformou milhares de vidas na caatinga e mudou os rumos da arqueologia brasileira.
Niède Guidon deixa como legado não só uma nova forma de enxergar a história do continente americano, mas também uma obra viva em defesa da ciência, da educação e da dignidade humana no sertão nordestino.