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Laíla,o mestre da harmonia que revolucionou o Carnaval

Foto: Reprodução

Mais do que um organizador, Laíla era um estrategista do samba

Considerado um dos maiores nomes da história do carnaval brasileiro, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, conhecido como Laíla, deixou um legado incontestável na cultura popular do país. Com uma trajetória marcada por inovação, paixão e disciplina, ele foi muito mais do que um diretor de carnaval — foi um símbolo de excelência e comprometimento com o espetáculo que move multidões e emociona o mundo: o desfile das escolas de samba.

Laíla nasceu em 1947, no bairro de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Começou sua carreira no carnaval na década de 1960, e logo se destacou por seu talento incomum para a organização e a harmonia das escolas. Sua trajetória ganhou projeção nacional principalmente a partir de sua passagem pela Beija-Flor de Nilópolis, escola que ajudou a transformar em potência do carnaval carioca.

Ao longo de décadas, Laíla desenvolveu um estilo próprio de trabalho. Era conhecido por sua rigidez nos ensaios, atenção aos mínimos detalhes e pela busca incansável pela perfeição. Seu lema era claro: o carnaval é arte, mas também é técnica, planejamento e suor. Como diretor de carnaval e coordenador de harmonia, não havia espaço para improviso — tudo era milimetricamente pensado.

Durante o período em que esteve à frente da Beija-Flor, Laíla foi responsável por levar a escola a 13 títulos no Grupo Especial, firmando uma era de hegemonia. Seu talento não se restringiu a Nilópolis. Ele também passou por outras grandes agremiações, como a Unidos da Tijuca, Salgueiro, Grande Rio e, mais recentemente, a Unidos de Vila Isabel. Em todas, deixou sua marca de mestre e visionário.

Mais do que um organizador, Laíla era um estrategista do samba. Conhecia a alma do desfile: sabia que cada canto, cada batida e cada movimento no desfile era uma peça de um grande quebra-cabeça emocional. Sua relação com os componentes era intensa. Acreditava que a harmonia não era apenas musical, mas principalmente humana — e por isso fazia questão de ouvir cada ala, conversar com ritmistas, intérpretes e passistas.

Para muitos sambistas, Laíla foi uma escola viva. Sua dedicação inspirou gerações de carnavalescos, diretores e amantes da festa popular. Ao mesmo tempo em que cobrava muito, também oferecia apoio e ensinamento. Ele acreditava que o carnaval era uma manifestação do povo, que merecia ser tratada com respeito e grandeza.

Em 2025, como um verdadeiro tributo ao seu legado, a Beija-Flor de Nilópolis emocionou o público e conquistou o título de campeã do carnaval carioca com o enredo “A Voz que Guia a Harmonia – Laíla, o Mestre do Samba”. O desfile foi um espetáculo grandioso e comovente, marcado por alegorias que retrataram sua trajetória e contribuições ao mundo do samba. O povo de Nilópolis foi às lágrimas, e a vitória foi celebrada não apenas como um título, mas como uma homenagem justa e consagradora ao homem que transformou a Beija-Flor em uma das maiores escolas de todos os tempos.

Laíla faleceu em junho de 2021, vítima de complicações da Covid-19, aos 78 anos. Sua morte foi um choque para o mundo do samba e deixou um vazio difícil de preencher. Mas sua história permanece viva em cada ensaio técnico, em cada desfile inesquecível, em cada escola que ele ajudou a construir com tanto amor.

Mais do que saudade, Laíla deixa um legado eterno de paixão pelo carnaval, de comprometimento com a cultura popular e de excelência como norte. Seu nome será sempre lembrado como o homem que ensinou o samba a desfilar em perfeita harmonia

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