Desde as primeiras aulas de língua portuguesa, aprendemos que existem letras (representação gráfica) e fonemas, a menor unidade sonora que nos permite diferenciar uma palavra da outra. Sabedores somos de que nosso alfabeto é composto de vinte e seis letras, que, combinadas, produzem o léxico que usamos para formar palavras e expressões de nossa língua. A questão é que nem toda letra é fonema. Esqueceram? Façam um rápido exercício e digam-me que letra é essa. Sem muito esforço, a resposta ao desafio é a letra H.
Depois de toda essa fundamentação teórica, posso reavivar a existência da semivogal, o fonema mais débil em comparação à vogal, base da sílaba, e à consoante, fonema que soa com a vogal, daí dizer “com a soante”. Dos três, a semivogal costuma ser desprezada por muitos, que, ao cantarem versos de uma música, a apagam, como no trecho da música Céu na boca, interpretada por Ivete Sangalo: “Eu quero beijar a sua boca louca”, em que a semivogal U da palavra louca é eliminada, permitindo a rima entre boca / loca. Essa situação é corriqueira fora do contexto musical, visto que usuários da língua costumam elidir a semivogal I nas palavras cadeira, carteira, manteiga, bandeira, cabeleireiro. Atire a primera (sem o I) pedra quem nunca deixou de produzir o I nesses vocábulos!
Para piorar a situação, temos a pronúncia de certos nomes próprios que exigem do falante a noção do que seja semivogal, a fim de evitar equívocos. Essa confusão é mais comum do que se pensa, e minha amiga Raisa é uma vítima desse problema. Curiosa estou para saber como cada um(a) de vocês pronunciou o nome dela. Quem a identificou como uma palavra dissílaba em que a primeira sílaba é formada por uma consoante seguida de uma vogal (A) e de uma semivogal (i) acertou. Sei, contudo, que muitos podem ter pensado que o nome dela é Ra-í-sa, faltando o acento sobre a vogal (i). Esse é o dilema que, neste exato instante, será parte de seu passado, uma vez que vocês entenderão que a sílaba RAI é formada por um ditongo decrescente (AI), como ocorre em coi-sa. Isso mesmo, meus caros! Não à toa, posso afirmar que a letra que representa o fonema /Z/ é S. Sei que estão pensando: mas por que tamanha convicção? Simples: diante de ditongo, o fonema /Z/ é grafado com a letra S, como em coi-sa e mai-se-na. Já sei! Devem estar imaginando aquela caixa amarela ou a embalagem do biscoito, nas quais a grafia é maizena! Isso faz com que pensem que cometi um erro crasso. Infelizmente, leitores, a escolha da letra Z encontra respaldo na base XXI do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, na qual é garantida a liberdade de grafia. Portanto, a partir desta explicação, tenho a certeza de que o emprego de um acento gráfico será de suma importância para que confusões não mais aconteçam. O supermercado Assaí, que tem o I como vogal e não semivogal (que dispensaria o acento gráfico), agradece, e a Raisa mais ainda!