Região preserva memórias da escravidão, tradição do samba e enfrenta desafios da modernização
Localizada na zona portuária do Rio de Janeiro, a Gamboa é um dos bairros mais antigos da cidade e tem sua história intimamente ligada ao mar. O nome vem das pequenas embarcações chamadas “gamboas”, usadas para o transporte de mercadorias entre os navios e o cais. Desde o período colonial, a região se desenvolveu em torno da atividade portuária, reunindo trabalhadores, comerciantes e famílias que ajudaram a formar a identidade popular do bairro.
Marco da memória da escravidão
A Gamboa abriga um dos mais relevantes sítios arqueológicos da diáspora africana: o Cemitério dos Pretos Novos. Descoberto em 1996 durante obras em uma residência, o espaço foi utilizado no século XVIII para o enterro de africanos escravizados que morriam pouco após a chegada ao Brasil. Estima-se que milhares de pessoas tenham sido sepultadas no local.
Hoje, o Instituto dos Pretos Novos funciona como centro cultural e de pesquisa, promovendo atividades educativas que buscam manter viva a memória da escravidão e sua herança na formação da sociedade brasileira.
Berço do samba
Outro ponto de destaque é a Pedra do Sal, considerada patrimônio cultural e marco da cultura afro-brasileira. O local é tradicionalmente associado ao nascimento do samba carioca e segue sendo palco de rodas que reúnem moradores e visitantes semanalmente. O ambiente preserva a atmosfera das comunidades negras que ali se estabeleceram, reforçando o caráter cultural do bairro.
Transformações urbanas
A região passou por forte impacto com o projeto Porto Maravilha, lançado em 2009. A iniciativa trouxe novos equipamentos culturais, como o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR), além da implantação do VLT e da revitalização de praças e vias. Embora a modernização tenha ampliado a visibilidade da Gamboa, também gerou preocupações entre os moradores, diante do aumento da especulação imobiliária e da possibilidade de descaracterização do território.
Desafios e futuro
Apesar das transformações, a Gamboa mantém sua relevância histórica e cultural. Moradores e instituições locais promovem eventos, projetos comunitários e manifestações artísticas que reforçam a identidade do bairro. Para especialistas, o desafio está em conciliar o desenvolvimento urbano com a preservação da memória coletiva.Assim, a Gamboa segue como um espaço emblemático do Rio de Janeiro: um bairro que guarda marcas profundas da escravidão, celebra a tradição do samba e enfrenta, ao mesmo tempo, os dilemas da modernização da zona portuária.





