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Voz da Justiça: Eleições 2026: entre mudanças, desafios e a urgência de escolher com consciência

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em 2022, o Brasil deu um passo ousado ao aprovar uma reforma eleitoral que prometia mais do que ajustes técnicos: ela visava redefinir os contornos da democracia brasileira. Agora, às vésperas das eleições de 2026, é hora de entender como essas mudanças reverberam na vida do eleitor, nas estruturas de poder e no próprio espírito da cidadania.

A reforma de 2022 trouxe alterações profundas. Entre elas, destacam-se, o fim da reeleição para cargos do Executivo (presidente, governadores e prefeitos), mandatos ampliados para cinco anos, com unificação das eleições gerais e municipais, reserva de 20% das cadeiras legislativas para mulheres, substituindo a antiga cota de candidaturas, regulamentação do uso de inteligência artificial nas campanhas, proibição do uso de criptomoedas no financiamento eleitoral e punição à disseminação de fake news e pesquisas fraudulentas. Essas medidas não são apenas técnicas. Elas carregam implicações sociais, econômicas e jurídicas que merecem atenção.

A reserva de cadeiras para mulheres é, sem dúvida, um avanço. Em um país onde mais de 700 municípios não têm sequer uma vereadora, garantir presença feminina no Legislativo é um passo para corrigir desigualdades históricas. No entanto, a mudança na regra de candidaturas para cadeiras levanta debates sobre a autonomia dos partidos e o risco de candidaturas simbólicas.

Além disso, o fim da reeleição pode abrir espaço para renovação política, mas também pode enfraquecer lideranças populares que precisariam de mais tempo para consolidar políticas públicas. A pergunta que fica é: estamos promovendo renovação ou instabilidade?

A proibição do uso de criptomoedas e o reforço na fiscalização do financiamento eleitoral são tentativas de blindar o processo contra práticas obscuras. Em tempos de campanhas digitais e microtargeting, o dinheiro circula de formas cada vez menos rastreáveis. A reforma tenta acompanhar essa evolução, mas o desafio é imenso.

Aliás, a unificação das eleições pode gerar economia para os cofres públicos, ao reduzir o número de pleitos. Contudo, também pode concentrar disputas e dificultar o debate local, já que temas nacionais tendem a ofuscar pautas municipais.

A atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) será decisiva. Com nomes como Edson Fachin e Estela Aranha à frente da Corte, espera-se uma postura firme contra a desinformação e o uso indevido de tecnologias emergentes. A regulamentação da inteligência artificial nas campanhas é um marco: pela primeira vez, o Brasil reconhece que algoritmos podem manipular narrativas e influenciar decisões eleitorais.

No entanto, a aplicação dessas regras exige preparo técnico e independência institucional. O Judiciário será capaz de equilibrar inovação e integridade?

Mais do que nunca, o eleitor precisa estar atento. A reforma de 2022 não é apenas uma mudança de regras — é uma mudança de cultura. Ela exige do cidadão uma postura crítica, ativa e informada. Afinal, o voto continua sendo o instrumento mais poderoso de transformação social.

É preciso perguntar: quem se beneficia com essas mudanças? Estamos diante de uma reforma que fortalece a democracia ou que a torna mais vulnerável aos interesses de poucos?

Em 2026, não basta votar. É preciso entender o que está em jogo, questionar narrativas, exigir transparência e participar do debate público. Porque, no fim das contas, a democracia não se sustenta apenas nas urnas, ela vive no cotidiano de cada escolha, cada posicionamento, cada voz que se recusa a ser silenciada.

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