Jornal DR1

Deleite Linguístico: Angela Ro Rô e sua proficiência em usar o “tu”

Reprodução

A trigésima terceira maior voz da música brasileira, segundo a revista Rolling Stones, cessou no último dia 8. Sorte nossa termos as gravações de Angela Ro Ro para ouvir e constatar sua criatividade ao abordar o maior e mais lindo sentimento que atravessa gerações e que se mantém vívido: o Amor. Sim, meus caros, um sentimento que é pulsante na voz e na interpretação ímpar de Angela Ro Ro. 

Eu, como uma pessoa intensa, romântica e fã da rouca Ro Ro, não consigo segurar as lágrimas que insistem em rolar sobre minha face, ao ouvir a canção “Fogueira” e dela destaco estes versos: “Não penses ter a vida inteira /  Para esconder teu coração / Mas breve que o tempo passa / Vem num galope o teu perdão”. Neles observamos a escolha do sujeito que, ora elíptico (TU), ora explícito (o teu perdão), orbita na segunda pessoa do singular (tu), além da inegável maestria de Angela em tecer versos, que exalam amor. Ressalto que nem todos os compositores dominam a conjugação verbal, que exige a concordância verbal entre o verbo e o sujeito da oração. Normalmente, quando o sujeito é formado por um pronome pessoal que esteja flexionado na segunda pessoa do singular, deslizes acontecem, encontrando respaldado na licença poética. Eu, contudo, peço licença àqueles e exalto a presteza de Angela Ro Ro, que não nos deixa dúvidas de seu talento não só como intérprete, mas também como conhecedora da variedade norma-padrão da língua portuguesa.

 Ainda explorando o verso “Não penses ter a vida inteira”, quero tratar do imperativo negativo, que exige do usuário do português o conhecimento de que esse modo é formado pelo presente do subjuntivo com o acréscimo do advérbio Não, anteposto ao verbo, e da ausência dos pronomes pessoais do caso reto, que ficam ocultos na oração. Isso sem falar do EU, pronome cuja omissão é justificada pelo fato de não haver lógica em dar a si mesmo (a) uma ordem ou uma instrução, marcas do modo imperativo. Que fique clara a diferença entre os modos imperativo negativo e imperativo afirmativo; visto que a construção do afirmativo é feita a partir da retirada das segundas pessoas do singular e do plural (tu/vós) do presente do indicativo sem o S final. Já as outras pessoas (você /nós/vocês) são cópias do presente do subjuntivo. Na prática, usando o verso “Não penses ter a vida inteira’, se Angela Ro Ro cantasse sem o advérbio NÃO, teríamos a seguinte construção para a segunda pessoa do singular: “PENSA ter a vida inteira”, em que o sujeito implícito TU faz com que o verbo perca o S final, gerando PENSA. Caso Angela se dirigesse ao pronome de terceira pessoa do singular (Você), cantaria “PENSE ter a vida inteira”. Em contrapartida, a conjugação do presente do imperativo negativo, que é cópia do presente do subjuntivo, gera estas construções: Não PENSES (TU) e Não PENSE (VOCÊ). Independentemente de vocês serem fãs de Angela Ro Ro, desejo que o amor seja seja uma constante em nossas vidas! 

Confira também

Nosso canal