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Thelma Krug, a voz que influencia a ciência climática mundial

Foto_ Claudio Angelo_OC

A brasileira que levou a ciência do clima ao centro das decisões globais

Nascida em 20 de março de 1951, em São Paulo, Thelma Krug é uma das vozes mais influentes da ciência climática mundial. Formada em Matemática pela Roosevelt University, em Chicago (1975), fez mestrado em Probabilidade e Estatística na mesma instituição (1977) e doutorado em Estatística Espacial na University of Sheffield, no Reino Unido (1992). Desde cedo, mostrou habilidade para unir dados, modelos matemáticos e visão política — combinação que marcaria toda sua carreira.

De volta ao Brasil, ingressou em 1982 no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde se tornou uma das principais especialistas em sensoriamento remoto e mudanças no uso da terra. No instituto, coordenou o Programa de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia (PRODES), responsável por revelar ao mundo, com precisão inédita, a velocidade da devastação florestal brasileira. Seu trabalho contribuiu para colocar o Brasil entre os países com maior capacidade de observação ambiental por satélite.

Além do papel técnico, Krug também assumiu cargos estratégicos em políticas públicas, como secretária nacional de Mudança do Clima e Qualidade Ambiental no Ministério do Meio Ambiente, e atuou como conselheira em fóruns internacionais. Essa combinação de ciência e diplomacia climática consolidou seu nome como referência mundial.

O protagonismo no IPCC e a voz brasileira no debate global

O reconhecimento internacional veio com sua trajetória no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que produz relatórios científicos sobre o aquecimento global. A partir de 2002, Krug foi co-presidente da Força-Tarefa de Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, responsável por padronizar os métodos usados no mundo inteiro para medir emissões.

Em 2015, foi eleita vice-presidente do IPCC, tornando-se a primeira mulher brasileira e uma das poucas latino-americanas a ocupar o cargo. Durante seus mandatos, participou diretamente da elaboração dos relatórios que embasaram o Acordo de Paris (2015) e alertaram para a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.

Reconhecida pelo equilíbrio entre rigor técnico e capacidade política, Thelma Krug defendeu a inclusão de países em desenvolvimento nas discussões globais sobre mitigação e adaptação climática. “O desafio é garantir que a ciência seja compreendida pelos tomadores de decisão, para que ela guie políticas públicas de longo prazo”, afirmou em entrevista à Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Ciência, política e futuro climático

Em um contexto de crescente crise ambiental, Krug tem reforçado a necessidade de o Brasil assumir papel protagonista. Para ela, a COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, será uma oportunidade histórica. “A conferência não pode ser apenas sobre florestas — precisamos discutir também combustíveis fósseis, energia e justiça social”, declarou à ABC.

Entre suas bandeiras, estão o fortalecimento do monitoramento climático nacional, a valorização da ciência baseada em evidências e a construção de uma estratégia de Estado para o clima, que ultrapasse ciclos de governo. Sua visão é de que o conhecimento científico deve ser ferramenta para reduzir desigualdades e proteger populações mais vulneráveis.

Com mais de 40 anos dedicados à pesquisa e à formulação de políticas públicas, Thelma Krug é símbolo de uma geração que fez da ciência um instrumento de transformação. Sua trajetória mostra que o Brasil pode ser protagonista global na agenda ambiental — e que a liderança feminina é essencial na construção de um futuro mais sustentável.

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