Especialistas alertam para crescimento de casos, impacto urbano e necessidade de políticas públicas integradas
As zoonoses são doenças transmitidas direta ou indiretamente entre animais e seres humanos e tornaram-se um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo. Com a expansão urbana desordenada, mudanças climáticas, maior circulação de pessoas e fragilidades no controle sanitário, infecções antes restritas a áreas rurais agora se espalham com velocidade para centros urbanos, pressionando sistemas de vigilância e exigindo respostas articuladas entre diferentes setores governamentais.
Entre as zoonoses mais recorrentes no país estão dengue, chikungunya e zika transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, além de leptospirose, raiva, leishmaniose, febre maculosa, hantavirose e toxoplasmose. Embora cada uma tenha características próprias, todas compartilham um elemento central: a relação entre a saúde humana, o ambiente e os animais domésticos ou silvestres. Esse elo caracteriza o conceito de “Saúde Única”, abordagem recomendada por organismos internacionais para enfrentar ameaças sanitárias que não respeitam fronteiras ecológicas.
Nas cidades, fatores como acúmulo de lixo, enchentes e presença de vetores favorecem a propagação dessas doenças. A leptospirose, por exemplo, aumenta significativamente em períodos de chuvas intensas, quando águas contaminadas por urina de roedores entram em contato com a população. Já a febre maculosa, transmitida pelo carrapato-estrela, tem avançado em regiões metropolitanas, impulsionada pela proximidade entre áreas verdes, cavalos, capivaras e espaços de convivência humana.
Especialistas em vigilância epidemiológica alertam que a mudança climática é um dos principais motores desse cenário. Temperaturas mais altas e períodos prolongados de calor ampliam o ciclo reprodutivo de mosquitos vetores, favorecendo surtos de arboviroses em épocas antes consideradas atípicas. Esse padrão se repete em diversas regiões do país e indica a necessidade de reforço permanente na prevenção.
A raiva, uma das zoonoses mais letais, permanece sob controle no Brasil graças a campanhas de imunização de cães e gatos, porém autoridades de saúde ressaltam que a vigilância não pode ser reduzida. Casos envolvendo morcegos, animais silvestres ou populações ribeirinhas reforçam a importância da vacinação como medida central de proteção.
Outro ponto de preocupação é o impacto socioeconômico das zoonoses. Populações em áreas periféricas, com saneamento básico insuficiente, são as mais vulneráveis ao contágio e às complicações, o que amplia desigualdades já existentes. A falta de acesso a informações adequadas e a dificuldade de identificar sintomas também contribuem para diagnósticos tardios.
Embora o avanço das zoonoses represente um desafio crescente, especialistas afirmam que o impacto pode ser mitigado por políticas públicas consistentes e pela participação ativa da população. Do descarte correto de lixo à vacinação de animais, passando pela busca imediata de atendimento em caso de sintomas suspeitos, a proteção depende da soma de esforços. As zoonoses, antes vistas como problemas isolados, mostram-se hoje um retrato do equilíbrio ou desequilíbrio entre sociedade, natureza e saúde.





