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Benito Di Paula, a elegância no piano e a poesia do Samba-Jóia

Imagem 1 _ Foto_ Edilson Dantas _ Agência O Globo

Uma das figuras mais singulares e importantes da Música Popular Brasileira

Benito di Paula, nome artístico de Uday Vellozo, nascido em Nova Friburgo (RJ) em 1941, é uma das figuras mais singulares e importantes da Música Popular Brasileira (MPB). Sua carreira não apenas emplacou sucessos atemporais, mas também redefiniu a sonoridade do samba ao introduzir o piano como elemento central e a um figurino inconfundível. Originário de uma família de músicos e poetas, Benito absorveu a cultura musical desde cedo. Sua trajetória inicial, contudo, não se deu nos palcos brasileiros; ele iniciou sua vida profissional como crooner e instrumentista em casas noturnas, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, em temporadas fora do país, notavelmente na Europa.

Essa experiência internacional foi crucial para moldar seu estilo único. Em 1971, Benito voltou ao Brasil com uma proposta musical definida e inovadora. Ele misturava o samba cadenciado e romântico com influências de bolero, jazz e música pop internacional. O resultado foi o que ele próprio batizou de Samba-Jóia: um som sofisticado, com arranjos elaborados, que fugia do samba de roda tradicional, mas mantinha a essência rítmica e a temática poética da vida simples e do amor. Seu visual, que se tornou marca registrada—cabelos e barba longos, roupas brancas e o inseparável piano de cauda—completava a persona artística de um músico que era, ao mesmo tempo, popular e classudo.

O fenômeno fonográfico e o reconhecimento internacional

A década de 1970 marcou o auge do fenômeno Benito di Paula. O álbum “Um Novo Samba” (1973), impulsionado pelo sucesso estrondoso de “Retalhos de Cetim”, consolidou-o como um nome de peso na indústria fonográfica. A canção, que narra de forma poética a história de um sambista sonhador e sua fantasia de carnaval, tornou-se um dos maiores clássicos do samba-canção. Outros hits dessa fase incluem “Charlie Brown”, uma homenagem ao desenhista Charles M. Schulz e uma canção pacifista que alcançou enorme popularidade, e “Ah, Como Eu Amei”. Sua produção foi vertiginosa: foram lançados dez álbuns em apenas dez anos, com vendagens que ultrapassaram a marca de cinco milhões de cópias no Brasil e no exterior.

A originalidade do Samba-Jóia abriu-lhe as portas do mercado internacional. Canções de Benito di Paula foram gravadas e fizeram sucesso em países como Espanha, Portugal e Japão, além de terem sido tema de trilhas sonoras de novelas brasileiras, perpetuando sua relevância na cultura pop. Ele conseguiu a proeza de ser respeitado pelos sambistas tradicionais ao mesmo tempo em que era adorado pelo grande público, que se identificava com as letras diretas e o romantismo acessível de suas melodias. Sua música sempre celebrou a alegria de viver, a fé e a dignidade do povo brasileiro.

Legado e permanência na música

Apesar de ter diminuído o ritmo de gravações a partir dos anos 1980, Benito di Paula manteve-se ativo, realizando shows e sendo regravado por artistas de diferentes gerações. Sua influência pode ser sentida na forma como o piano foi incorporado a diversos subgêneros do samba. O ressurgimento do interesse em sua obra se intensificou no século XXI, com o lançamento de coletâneas e participações especiais em projetos de novos artistas, provando a atemporalidade de sua música.

Benito di Paula não apenas criou canções; ele estabeleceu um estilo que era a síntese da elegância do jazz com a alma do samba. Ele pavimentou um caminho para a sofisticação harmônica dentro da música popular, provando que é possível ser popular sem abrir mão da qualidade e da inventividade. Sua obra permanece um testemunho da riqueza rítmica e da sensibilidade poética brasileira, e seu piano, um símbolo de uma época em que o samba vestiu um paletó branco para brilhar no palco global. Sua contribuição para a MPB é inestimável, sendo um mestre na arte de fazer o povo dançar e se emocionar com a mesma melodia.

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