A trajetória de Levi, o publicano que se tornou discípulo, revela caminhos de mudança, propósito e coragem ainda essenciais em tempos modernos.

A história de Levi, também conhecido como Mateus, é uma das mais emblemáticas quando falamos de transformação genuína na Bíblia. Ele era publicano — cobrador de impostos para o Império Romano — uma função malvista por seu povo, considerada símbolo de traição e injustiça. Levi carregava o peso do julgamento público, a marca da desconfiança e a solidão de quem vivia à margem da aceitação social. Mas é justamente nesse cenário que acontece um dos encontros mais surpreendentes das Escrituras: Jesus passa, olha para ele e diz apenas “Segue-me”. Assim, Levi se levanta, deixa tudo para trás e inicia uma nova história.

Esse momento, descrito de forma simples nos evangelhos, traz uma profundidade que ultrapassa séculos. Levi não recebeu discursos longos, nem exigências prévias. Ele não precisou provar ser digno antes de ser chamado. O convite veio enquanto ele ainda estava sentado na mesa de cobranças — no seu pior contexto, cheio de falhas e contradições. E mesmo assim, Jesus o enxergou além da aparência e do passado.

Ao olharmos para os dias atuais, a história de Levi se torna uma metáfora poderosa. Vivemos tempos em que as pessoas são frequentemente definidas — e aprisionadas — por seus erros, por rótulos sociais, por aparências ou por capítulos difíceis de suas trajetórias. Em um mundo que cobra perfeição, produtividade e aprovação constante, muitos se encontram “sentados na mesa da cobrança”, presos a culpas, pressões e expectativas.

Mas a lição de Levi nos lembra que ninguém está fora do alcance da graça, e que toda mudança começa quando se decide levantar-se da velha história para caminhar em direção ao novo. Assim como Levi, muitos hoje precisam apenas de um olhar de encorajamento, de alguém que acredite, de um convite para recomeçar. Quantas pessoas, assim como ele, aguardam ser vistas não pelo que foram, mas pelo que podem se tornar?

Levi também nos inspira a entender que transformação verdadeira não se limita ao pessoal. Depois de seguir Jesus, ele abriu sua casa, reuniu pessoas, compartilhou sua experiência e se tornou instrumento de mudança. Ele deixou de ser apenas um nome num registro de impostos para se transformar no autor de um dos evangelhos mais lidos do mundo.

Nos dias atuais, essa atitude ecoa no chamado para que cada um use sua história — inclusive as partes difíceis — para impactar outras vidas. O passado não é um obstáculo, mas matéria-prima para algo novo.

Levi nos ensina que todo recomeço começa com uma decisão. E, hoje como ontem, essa decisão continua ao alcance de todos.