Por Claudia Mastrange
Desde que começou a trabalhar com casos de violência contra a mulher, a promotora Carla Rodrigues Araújo foi se dando conta do imenso número de mulheres que simplesmente não percebem os sinais da violência, em suas mais diversas formas: moral, sexual, psicológica… “Muitas vezes o homem fala coisas como ‘com essa roupa, não saio com você’, ‘você não serve para nada” ou, num momento de desentendimento, dá um empurrão… Fora a questão de ter que transar, muitas vezes num momento que não quer. E a mulher não identifica isso como um sinal, uma agressão”, explica ela que, nesse foco, criou o projeto Vamos Mulherar.
O projeto tem como finalidade o esclarecimento do que é violência doméstica, feminicídio, como o mote da prevenção pela informação. Durante inúmeras audiências, Carla observou que as mulheres não se notavam vítimas nas agressões até o momento que algo mais grave pudesse acontecer. “O Vamos Mulherar é um suporte para as vítimas, que precisam identificar, se fortalecer e ganhar autonomia para conseguir sair de relacionamentos abusivos e esclarece pontos, como o que é medida protetiva, por exemplo”, conta Carla, revelando que o canal do projeto no YouTube já tem mais de 100 vídeos disponíveis.
Promotora Carla Rodrigues Araújo, do MP-RJ / Arquivo pessoal
Sem apoio de verbas institucionais, Carla, membro do Ministério Público do Rio, ministra palestras gratuitas sobre o tema e, nessa pegada, criou também o Vamos Mulherar nas Escolas, em que a informação é levada às instituições de ensino para que as novas gerações se informem sobre a violência. “A criança aprende a identificar uma relação abusiva, quais atitudes ou palavras podem ser consideradas atos de violência. Desse modo formamos replicadores”, explica Carla, lembrando que, de posse da informação, esses futuros adultos também não acharão ‘normal’ comportamentos hoje já identificados como violentos.
Num país em que uma a cada três mulheres brasileiras com mais de 16 anos já foi espancada, xingada, humilhada, agarrada, perseguida, esfaqueada, empurrada ou chutada e em que, a cada duas horas morre uma mulher vítima de feminicídio, a promotora lançou, entre outros livros, ‘As Marias do Brasil’. Ou seja: ações e letras coordenadas, tudo para tentar diminuir ainda mais as assustadoras estatísticas de violência contra a mulher. “Os números grandiosos que se divulga hoje são fruto também, tanto da conscientização, por conta de informações, dos efeitos da Lei Maria da Penha, etc., quanto da velocidade de difusão das notícias, via imprensa, redes sociais, etc. Por tudo isso, é uma imensa alegria contribuir para uma causa que pode significar salvar vidas”, conclui Carla Araújo.
Foto: Pixabay