Editorial
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) – filho do presidente da República e que queria ser embaixador em Washington – novamente veio a público com suas ameaças autoritárias ao defender “um novo AI-5”. Para quem não sabe, o Ato Institucional nº 5 foi o mais duro golpe do regime militar. Com ele, a ditadura fechou definitivamente o Congresso, cassou as liberdades democráticas e aumentou a repressão, a perseguição, o assassinato e a tortura de opositores políticos.
Durante entrevista à jornalista Leda Nagle, no dia 31 de outubro, após reclamar sobre as críticas ao governo, o deputado disse que “se a esquerda radicalizar a esse ponto a gente vai precisar ter uma resposta; e uma resposta pode ser via um novo AI-5“. Dois dias antes, Eduardo já havia discursado na Câmara dos Deputados, ameaçando com um novo golpe militar. Referindo-se aos protestos no Chile, discursou que “se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir”.
Essas ameaças precisam ser duramente repudiadas, mesmo que sejam uma tática para desviar a atenção da sociedade frente às recentes notícias e áudios de Queiroz, o ex-assessor do seu irmão Flávio, suspeito de corrupção e de envolvimento com os milicianos que, por sua vez, são acusados pela execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. Em essência, as ameaças vindas do parlamentar mostram bem o seu caráter autoritário: não conseguindo lidar com as críticas, apela pelo uso dos tanques nas ruas e de fuzis apontados para os movimentos sociais.
O deputado, ao que parece, já antevê que o povo brasileiro não ficará parado diante de uma recém aprovada reforma da Previdência, a mesma que retira direitos de milhões de trabalhadores, ou de uma nova reforma trabalhista que visará levar os assalariados à semiescravidão. Saiba ele que as criticas e protestos, sejam eles contrários ou a favor do governo, são atitudes legitimas. Eduardo, que não pensa dessa forma, apela para a força dos quartéis e, portanto, sequer é digno de sentar numa cadeira de deputado, cargo que, ironicamente, foi eleito democraticamente.