O secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, foi demitido do cargo e a exoneração assinada pelo presidente Jair Bolsonaro já foi publicada na tarde desta sexta-feira,17 de janeiro, no Diário Oficial da União. A decisão foi consequência de um pronunciamento de Alvim, em que ele reproduziu um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, causando indignação nas redes sociais e gerando protestos de organizações, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
“Comunico o desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo. Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência”, escreveu Bolsonaro em nota. Os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, também haviam se manifestado, pedindo publicamente afastamento imediato de Roberto Alvim do governo.
O polêmico pronunciamento de Roberto Alvim aconteceu em um vídeo compartilhado na quinta-feira,16, quando ele anunciou o lançamento do Prêmio Nacional das Artes, iniciativa da Secretaria Especial da Cultura que irá destinar mais de R$ 20 milhões para fomentar a produção artística nacional, em sete categorias. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim no vídeo.
As palavras são idênticas às declarações do ministro de cultura e comunicação de Hitler em um pronunciamento para diretores de teatro: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
Além dos trechos similares do pronunciamento, a fala de Alvim tinha como trilha sonora a ópera “Lohengrin”, obra que Hitler declarou ter sido decisiva em sua vida.
Bolsonaro: “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas”
Em sua página no Facebook, Alvim explicou e, a seguir, colocou o cargo à disposição do presidente Bolsonaro. “Ontem lançamos o maior projeto cultural do governo federal. Mas no meu pronunciamento, havia uma frase parecida com uma frase de um nazista. Não havia nenhuma menção ao nazismo na frase, e eu não sabia a origem dela. O discurso foi escrito a partir de várias ideias ligadas à arte nacionalista, que me foram trazidas por assessores. Se eu soubesse da origem da frase, jamais a teria dito.
Tenho profundo repúdio a qualquer regime totalitário, e declaro minha absoluta repugnância ao regime nazista.
Meu posicionamento cristão jamais teria qualquer relação com assassinos… Peço perdão à comunidade judaica, pela qual tenho profundo respeito. Do fundo do coração: perdão pelo meu erro involuntário.
Mas, tendo em vista o imenso mal-estar causado por esse lamentável episódio, coloquei imediatamente meu cargo a disposição do Presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de protegê-lo.
Dei minha vida por esse projeto de governo, e prossigo leal ao Presidente, e disposto a ajudá-lo no futuro na dignificação da Arte e da Cultura brasileiras”.
Alvim estava no governo desde junho, quando foi nomeado diretor do Centro das Artes Cênicas da Fundação Nacional das Artes (Funarte). Em novembro assumiu o cargo de secretário especial de Cultura, semanas após ofender a atriz Fernanda Montenegro nas redes sociais, já, então, causando polêmica e indignação.
Após anunciar a exoneração, o presidente Jair Bolsonaro voltou a se manifestar, via Twitter: “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, como o nazismo e o comunismo, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos muitos valores em comum”, declarou.
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