Por Sandro Barros
Na madrugada do dia 3 de janeiro, dois carros foram atingidos por um drone estadunidense no aeroporto de Bagdá, capital do Iraque. Dentre os nove mortos, estava o general iraniano Qasem Soleimani, o principal comandante militar do Irã, segunda figura mais importante do país — na frente do presidente e atrás apenas do líder supremo Ali Khamenei — e um homem considerado mártir e herói nacional. Não levou muitas horas para que os Estados Unidos se pronunciassem, com o Pentágono confirmando que a ordem para matar havia vindo de Donald Trump em discurso no dia seguinte ao ataque.
As tensões entre EUA e Irã não vem de hoje, mas a partir de 2018 a situação ficou mais crítica, quando os EUA se retiraram do Acordo Nuclear internacional com o Irã e lhe impuseram uma série de sanções que derrubou fortemente sua economia. Em 2019, contudo, o Irã se envolveu em uma série de ataques a seus inimigos no Oriente Médio, numa tentativa de retomar sua influência na região.
Mas o ataque de 3 de janeiro não se trata de um evento isolado, pois outros importantes o antecederam. No dia 27 de dezembro um ataque a uma base estadunidense no Iraque deixou morto um funcionário terceirizado das forças armadas estaduniense. Os EUA apontaram o Hezbollah como autor. Dois dias depois, alegando resposta, os EUA proferiram ataques que mataram 24 pessoas em bases de milícias no Iraque e na Síria. E no último dia do ano, milicianos iraquianos da mesma “aliança” invadiram a embaixada estadunidense em Bagdá, durante 24 horas, sem que houvesse mortes.
Outros episódios lamentáveis, como a queda do avião ucraniano por mísseis iranianos após a execução do general Soleimani, que Teerã admitiu ser responsável, ainda que por “engano”, ressaltam a gravidade da situação. No entanto, até o presente momento os dois países já afirmaram oficialmente que não querem guerra. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad JavadZarif, declarou que seu país “adotou e concluiu” medidas de represálias “proporcionais”. E o presidente dos EUA diz que aguarda uma solução diplomática para o conflito, mas que Washington retaliará militarmente caso seus cidadãos forem mortos como resultado das ações de Teerã.
Apesar dos rumores sobre uma Terceira Guerra Mundial, é pouquíssimo provável que o conflito venha a compreender mais atores do que aqueles envolvidos até agora. Um dos indícios disso é o fato de que, até o momento, diversos líderes políticos mundo afora já fizeram apelos para que a solução seja resolvida de forma pacífica. Até o presente momento, apenas dois países expressaram oficialmente seu apoio ao conflito e aos EUA: Israel e Brasil.
Nesse cenário de crise, ainda assim há uma série de indústrias que lucram (e muito) com essa situação, em especial os fabricantes e exportadores de armas – que compõem um dos maiores grupos do mercado financeiro global. Também não se pode ignorar que a indústria é outra que se beneficia. Irã e Iraque são responsáveis por cerca de 25% das reservas mundiais de petróleo e se há menos oferta do produto no mercado internacional, seu preço tende a subir. Outro beneficiado é o próprio Trump, que vem conseguindo desviar o foco de seu processo de impeachment – em especial, com a aproximação das próximas eleições presidenciais. (com agências internacionais).