Por Claudia Mastrange
O corpo do cantor e compositor Tunai foi cremado na tarde da segunda, 27 de janeiro, no Memorial do Carmo, no Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio. Familiares, amigos e colegas músicos e compositores se despediram do artista em clima de muita emoção. Tunai morreu em casa, no bairro de Santa Teresa, no Rio,,aos 69 anos, vítima de parada cardíaca.
Regina Mucci, mulher de Tunai revelou que “ainda não caiu a ficha”. Ela estava assistindo TV com o marido e foi dormir antes de Tunai, que queria ver uma maratona com filmes de James Bondi. Pela manhã, ao acordar, o encontrou morto no sofá. “E agora como é que se faz? Depois de 50 anos juntos…. Estou com ele desde os meus 15 anos. É uma vida inteira. Não sei o que fazer, como fazer.. Difícil até respirar sem ele”, contou ela, o tempo todo amparada pelos filhos André e Daniela, familiares, amigos e companheiros de trabalho de Tunai.
Nomes como o maestro Wagner Tiso, que estava em turnê com Tunai na produção ‘Saudade da Elis – as Aparências Enganam’, show que abriu o projeto Diário do Rio Musical, em setembro de 2019, esteve no velório. O músico Victor Biglione e a cantora Jane Duboc também estiveram presentes
Emocionadíssima, Jane não conteve as lágrimas ao falar de Tunai. “Foram 45 anos de amizade. Ele não era mais um amigo, era um irmão. Vivi grandes momentos da minha carreira com ele, um excelente melodista e uma pessoa linda, sempre alegre…é uma grande perda”, declarou ela ao Diário do Rio.
Em 1982, Jane conquistou o terceiro lugar no festival MPB Shell cantando ‘Doce Miistério’, de Tunai e Sérgio Natureza, parceiro de Tunai em boa parte das suas mais de 200 canções. Sérgio, que vive no Retiro dos Artistas, também foi se despedir do amigo e parceiro de trabalho. Outro companheiro de estrada que fez questão de dar adeus a Tunai foi o percussionista Edinho Souza. “Obrigado por esses mais de 20 anos tocando juntos, cara. Foi uma honra ter estado ao seu lado”, declarou o músico durante a pequena cerimônia, antes do processo de cremação. “Vivemos muitos momentos bons com nossa música. Eu tinha que vir”, disse.
O filho de Tunai, André, ao lado da irmã Daniela e da mãe, leu uma Oração de Santo Agostinho em homenagem ao pai. Os presentes rezaram ainda as orações do Pai nosso e da Ave Maria e a viúva Regina lembrou de histórias doces e curiosidades familiares do maridão e que , como bom mineiro, não deixava faltar queijo em casa. “São essas lembranças que vão ficar”, disse. Todos cantaram ‘Frisson’ e aplaudiram o arista que, além de belas canções, vai deixar muita saudade.
“Estou muito feliz e quero celebrar a vida”
Nascido em Ponte Nova, na Zona da Mata mineira, José Antônio de Freitas Mucciera Irmão do também cantor e compositor João Bosco, Tunai teve a música como parte de sua vida desde a infância. Sua mãe, Maria Auxiliadora de Freitas Mucci, a dona Lilá, tocava violino num grupo de serestas e mantinha também um coral. Ele iniciou o seu curso de Engenharia Civil na cidade de Ouro Preto. Depois de se transferir para Belo Horizonte, onde concluiu seu curso, trabalhou durante um tempo como engenheiro, mas acabou correndo atrás do grande sonho e vocação: a música.
“Eu ainda ficava lá e cá com a Engenharia… Mas quando Elis Regina gravou ‘As Aparências Enganam’, em 1979, tive certeza que a música era meu caminho definitivo. Elis me abiu as portas. Aí deixei de ter dúvidas e mergulhei de cabeça”, contou ao Diário do Rio, o autor do sucesso ‘Frisson’, Tema da novela ‘Suave Veneno’, de 1984, a canção ganharia muitas versões ao longo dos anos, nas vozes de artistas como Elba Ramalho e Ivete Sangalo.
Tunai foi gravado pelas maiores estrelas da música brasileira, entre elas Gal Costa (‘Eternamente’ e ‘Olhos do Coração’), Fagner (‘Azul da Cor de Um Blues’), Fafá de Belém (‘Se Eu Disser’’), Emílio Santiago (‘Perdão’) e Zizi Possi (‘Numas’). Atualmente, segundo a família, estava trabalhando em uma versão musical para um poema de Fernando Brant.
Em novembro de 2019, além da turnê com Wagner Tiso, o artista gravou, em 02 de novembro, no Vivo Rio, um DVD em comemoração a seus 40 anos de carreira, com apoio do Diário do Rio. Estava felicíssimo e cheio de planos. “O show é no dia dos mortos, mas estou celebrando a vida, Claudia querida! Estou muito, muito feliz. Consegui resgatar varias músicas minhas que estavam presas na antiga (gravadora) Polygram, lancei o álbum ‘Caderno de Lembranças’ e agora, esse DVD… Só tenho mesmo que comemorar!”, afirmou, com toda a sua habitual simpatia. Está certo Tunai, os amantes da música te aplaudem e fazem sim, um brinde à vida.
Fotos: Luis Adenauer