Da Redação
O presidente Jair Bolsonaro vem afirmando que não pretende recriar, “no momento”, o Ministério da Segurança Pública, conforme ele próprio chegou a cogitar. A mudança tiraria poderes de seu ministro mais popular, Sergio Moro, e gerou repercussão negativa entre os apoiadores dele e insatisfação por parte do próprio ex-juiz da Lava Jato. Ao chegar à Índia, sua mais recente agenda internacional, Bolsonaro afirmou que a “chance [de mudança] no momento é zero.” Mas ponderou: “Não sei amanhã. Na política tudo muda, mas não há essa intenção de dividir. Não há essa intenção”, disse.
A relação entre Bolsonaro e o ex-juiz da Lava Jato passa por conflitos desde o ano passado, quando Moro foi contrário à suspensão do Supremo Tribunal Federal (STF) do uso de dados detalhados do Coaf em investigações ao responder a uma petição feita pelo filho do presidente, Flavio Bolsonaro. Recentemente, o presidente também ignorou a posição de Moro e deixou de vetar a criação da figura do juiz de garantias no pacote anticrime aprovado pelo Congresso. A ‘fritura’ de Moro aconteceu na mesma semana em que ele concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva, na qual tentava colar uma imagem de lealdade ao presidente Bolsonaro. Moro é o ministro mais popular da gestão Bolsonaro e é mais bem avaliado nas pesquisas que o próprio presidente — segundo Datafolha publicado em dezembro do ano passado, 53% avaliam sua gestão no ministério como ótima ou boa.
A ideia de dividir seu ministério ganhou força depois que um grupo de secretários de Segurança Pública se reuniu com Bolsonaro e pediu o retorno da pasta que existiu apenas durante um ano e meio, na gestão de Michel Temer (MDB). No período, o Ministério da Justiça foi dividido em dois. Sob o guarda-chuva da Segurança Pública ficaram as polícias Federal e Rodoviária Federal, a Força Nacional de Segurança e o Departamento Penitenciário Nacional, responsáveis por 88% do orçamento do antigo Ministério da Justiça. A Justiça era a responsável pela Fundação Nacional do Índio, os programas de refugiados e de direitos humanos.
Nem Sergio Moro, que segundo o próprio Bolsonaro seria contrário à mudança no ministério, nem seus subordinados estiveram no encontro com os secretários. “Há interesse de parte de setores da política. Nós simplesmente aceitamos recolher as sugestões, educadamente dizemos que vamos estudá-las, e os ministérios continuam sem problema”, explicou Bolsonaro naquela ocasião.
Uma das condições postas na mesa pelo ex-juiz para virar ministro foi justamente ter os poderes da pasta ampliados. Segundo Moro, a ideia era assumir uma gestão que avançasse principalmente em duas frentes: o pacote anticrime e as chamadas 10 medidas contra a corrupção, propostas pelo Ministério Público. Agora, um possível rateio no seu ministério lhe retiraria poder político e influência no combate à corrupção. Também tiraria de Moro a área que o ministro mais tem usado para enumerar seus feitos. As ações de combate ao tráfico de drogas e armas e a redução no índice de homicídios são hoje seus principais temas, inclusive nas redes sociais.
Ao tomar conhecimento sobre a possibilidade de perder influência no Governo, Moro fez um movimento político importante: em tempos em que as redes sociais são essenciais para eleições, abriu uma conta no Instagram, terreno onde Bolsonaro, seu chefe e, quem sabe, seu possível adversário na corrida presidencial em 2022, tem quase 15 milhões de seguidores. Em três horas Moro atingiu a marca de 125 mil adeptos.
Se essa tática realmente renderá frutos e o próprio futuro de Moro no governo são questões que só o tempo poderá dizer. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos!
Foto: Agência Brasil