Jornal DR1

Vai começar o maior espetáculo da Terra

Por Claudia Mastrange

Contagem regressiva para o maior espetáculo da Terra. Os blocos já estão nas ruas e as escolas de samba acertam os últimos detalhes para os desfiles. Apesar de ter reduzido radicalmente nos últimos anos, os repasses financeiros para as agremiações, a Prefeitura do Rio promete um carnaval histórico em termos de movimentação financeira e circulação de turistas e foliões de modo geral. E o povo, a despeito da luta cotidiana por mais saúde, educação, segurança e lazer, torce para que a folia transcorra com organização e segurança.

“Esperamos 1.9 milhão de turistas e temos uma expectativa de movimentação econômica chegando aos R$ 4 bilhões. Tudo está caminhando conforme nosso planejamento, que começou imediatamente após o último carnaval. Os blocos se espalham pelas ruas da nossa cidade e, em fevereiro, o espetáculo que acontece na Marquês de Sapucaí. Os desfiles acontecerão em um Sambódromo novo”, afirmou o presidente da Riotur (Empresa Municipal de Turismo do Rio de Janeiro), Marcelo Alves.

Se a estimativa de o Rio receber quase dois milhões de turistas se confirmar, este será o terceiro ano consecutivo de aumento na quantidade de visitantes. Ano passado, o número foi de 1,7 milhão. No mesmo período de 2018, 1,5 milhão de pessoas chegaram à cidade. Soma-se a isso a população local e deixa a estimativa de termos sete milhões de foliões nas ruas do Rio durante os dias de momo.

A Prefeitura anunciou um investimento de R$ 100 milhões no carnaval. Desse total, R$ 16 milhões serão aplicados no Sambódromo, em operações de órgãos como a Riotur e Comlurb e na área de saúde. De acordo com o presidente da Riotur, nos últimos três anos só com a captação de patrocínio levantado por meio do caderno de encargos (orientações e referências que devem ser obedecidas na concepção e execução de um projeto) foram aplicados R$ 78 milhões, além de subvenções de R$ 25 milhões. “Hoje os blocos têm R$ 2 milhões divididos por eles”, explicou Marcelo Alves.

O prognóstico da rede hoteleira no Rio é alcançar taxa de ocupação de quase 100% na Zona Sul da cidade. Na Barra da Tijuca, ela deverá ficar acima de 90%. “Vamos passar o carnaval de casa cheia”, aposta Alfredo Lopes, presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Rio, que prevê um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao ano passado. Ele considera que fatores como a melhora na sensação de segurança, a alta do dólar — estimulando as viagens domésticas — e novas atrações, como a roda-gigante da zona portuária, favorecem o turismo.

Esquema especial para os blocos

Ao todo, 543 desfiles estão cadastrados no sistema da Riotur, sendo 133 desfiles na Zona Sul, 133 no Centro, 123 na Zona Norte, 56 na Tijuca, 53 na Zona Oeste e 45 na Barra/Jacarepaguá. Os desfiles dos considerados sete megablocos — Carnaval Square (Claudia Leitte), Chora Me Liga, Bloco da Preta (Gil), Cordão do Bola Preta, Fervo da Lud (Ludmilla), Bloco das Poderosas (Anitta) e Monobloco — pelo segundo ano consecutivo acontecerão apenas no Centro do Rio.

Por conta da confusão no desfile do bloco A Favorita, na abertura do carnaval, em 12 de janeiro, que acabou com muita confusão e 28 prisões, a Prefeitura transferiu o desfile dos megablocos de 16h para as 7h e desagradou, entre outros, a dois dos mais tradicionais da cidade, Simpatia é Quase Amor e a Banda de Ipanema. Em nota, os dois blocos repudiaram a medida. “Não aceitaremos mudanças impostas sem qualquer consulta ou negociação e nem medidas de última hora que prejudiquem milhares de cariocas e turistas que procuram o Simpatia e a Banda de Ipanema apenas para brincar, cantar e se divertir de forma saudável”.

Independente dos horários, o esquema de policiamento reforçado conta com 1.500 policiais militares em todo o estado do Rio, sendo que mil serão alocados somente no Centro da cidade. Férias e folgas dos PMs foram canceladas. De olho no púbico gigantesco que os megablocos arrastam para os desfiles que vão ocorrer a partir do dia 9 de fevereiro, no Centro, os foliões só terão acesso à Avenida Presidente Antônio Carlos após passar por um dos 23 pontos de acesso. Eles serão delimitados por grades e terão policiais com detectores de metais manuais para revistar os foliões e impedir que pessoas circulem com facas, armas de fogo ou qualquer tipo de vidro.

Sambódromo passa por reformas

Esse ano não vai ser igual ao que passou na Marquês de Sapucaí. O Sambódromo está na reta final de reformas para melhoria na estrutura e no sistema de iluminação. Tudo para cumprir os requisitos de segurança exigidos pelo Ministério Público. Em 2019, às vésperas do carnaval, a Passarela do Samba foi interditada e o confete quase foi pro espaço. No dia do desfile, o Corpo de Bombeiros fez uma vistoria de emergência e a Riotur e a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) assinaram um termo se responsabilizando pela festa.

A reforma vai custar R$8 milhões – com verbas do Ministério do Turismo – e dará mais conforto e segurança aos mais 90 mil foliões que vão estar no Sambódromo a cada dia de desfile. As arquibancadas ganharam mais degraus, reforço no concreto e a pintura foi renovada. As escadas de acesso eram duas e agora serão cinco por setor, atendendo a uma das exigências dos Bombeiros e do MP. São mais de 200 operários trabalhando nas obras de recuperação estrutural e parte elétrica, além da instalação de um sistema contra incêndio e planos de fuga em caso de emergência.

Escolas prontinhas para entrar em cena

Cenário pronto, as estrelas principais dessa grande ópera popular chamada carnaval também finalizam os preparativos para entrar em cena, ou melhor, na Passarela do Samba. Os barracões das escolas de samba, que movimentam a economia e dão emprego a centenas de moradores das comunidades, além de realizar lindos projetos sociais o ano inteiro, estão a todo vapor.

Nos bastidores é fundamental também o trabalho de profissionais como o artista plástico Flavio Polycarpo (foto) e sua equipe que serão responsáveis pelas alegorias da Mangueira, atual campeão do carnaval carioca e da Unidos do Viradouro, a vice-campeã. “Temos a missão de manter a Mangueira no patamar mais alto e também contribuir para que a Viradouro alcance esse patamar em 2020. O coração fica dividido, não tem jeito. Mas sempre fala mais alto o profissionalismo. É bom fazer parte dos momentos felizes das pessoas, ajudar a concretizar sonhos”, diz Flavio, de 50 anos, sendo 35 de carreira e 31 anos dedicados a esculpir para o carnaval.

Então, que comece a festa!

DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RIO

Domingo

Estácio
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Enredo: ‘Pedra’
Rainha de bateria: Jack Maia
E escola vê com a carnavalesca mais premiada do Sambódromo, com sete títulos. “A pedra, na verdade, foi o primeiro livro onde as pessoas escreveram, onde deixaram suas impressões, seus desenhos”, declarou Rosa.

Viradouro
Carnavalescos: Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira
Enredo: ‘Viradouro de alma lavada’
Rainha de bateria: Raissa Machado
O enredo vai contar a história das Ganhadeiras de Itapuã, grupo musical que surgiu dos cantos, danças e crenças das lavadeiras do litoral baiano.

Mangueira
Carnavalesco: Leandro Vieira
Enredo: ‘A Verdade vos fará Livre’
Rainha de bateria: Evelyn Bastos
Intolerância e crítica social dão o tom do enredo ‘A verdade vos fará livre’, em que um Cristo nascido na favela luta contra o preconceito.

Paraíso do Tuiuti
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Enredo: ‘O Santo e o rei: encantarias de Sebastião’
Rainha de bateria: Lívia Andrade
O enredo ‘O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião’ é uma homenagem ao padroeiro do Rio de Janeiro, São Sebastião.

Grande Rio
Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Enredo: ‘Tata Londirá: o canto do caboclo no quilombo de Caxias’
Rainha de bateria: Paolla Oliveira
A agremiação de Caxias vem com tudo para contar a história do mais famoso pai de santo da cidade, Joãozinho da Gomeia.

União da Ilha
Carnavalescos: Fran-Sérgio, Cahê Rodrigues e Laíla
Enredo: “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: salve-se quem puder!
Rainha de bateria: Gracyanne Barbosa
“O enredo fala das encruzilhadas que nós todos temos que enfrentar para ter uma vida mais digna”, resume Fran, que conta com o reforço no time do diretor de carnaval e de harmonia Laíla, que atuou na Beija-Flor por 22 anos.

Portela
Carnavalescos: Renato Lage
e Márcia Lage
Enredo: ‘Guajupiá, terra sem males!’
Rainha de bateria: Bianca Monteiro
A escola de Madureira vai falar da história, cultura e comportamento dos primeiros habitantes do Rio de Janeiro, antes da chegada dos conquistadores portugueses.

Segunda-feira

São Clemente
Carnavalesco: Jorge Silveira
Enredo: ‘O Conto do vigário’
Rainha de bateria: Raphaela Gomes
Com samba assinado pelo humorista Marcelo Adnet e parceiros, a escola fala com humor da corriqueira prática de aplicar golpes e dar ‘um jeitinho’ por aí.

Vila Isabel
Carnavalesco: Edson Pereira
Enredo: ‘Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil’
Rainha de bateria: Aline Riscado
A escola vai celebrar dos 60 anos da inauguração da capital federal, Brasília, e transforma sua história numa lenda indígena.

Salgueiro
Carnavalesco: Alex de Souza
Enredo: ‘O rei negro do picadeiro’
Rainha de bateria: Viviane Araújo
O Salgueiro quer levantar a Sapucaí contando a história de determinação e coragem de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro brasileiro.

Unidos da Tijuca
Carnavalesco: Paulo Barros
Enredo: ‘Onde moram os sonhos’
Rainha de bateria: Lexa
O carnavalesco Paulo Barros volta à escola do Borel, onde levantou três títulos, e usa toda sua criatividade no enredo sobre a arquitetura e urbanismo do Rio.

Mocidade
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
Enredo: ‘Elza Deusa Soares’
Rainha de bateria: Giovana Angélica
Com samba de Sandra de Sá, a escola homenageia a diva Elza Soares, que ao longo de sua carreira sempre enalteceu a bateria de Padre Miguel.

Beija-Flor
Carnavalescos: Alexandre Louzada e Cid Carvalho
Enredo: ‘Se essa rua fosse minha’
Rainha de bateria: Raíssa de Oliveira
Depois de oito anos, Alexandre Louzada retorna à escola, que em seu enredo fala das estradas imensuráveis de nossa história e o quanto ainda temos a caminhar.

Fotos: Riotur e Divulgação

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