Por: Claudia Mastrange
O segundo dia de desfiles das escolas do Grupo Especial, na Marquês de Sapucaí, foi repleto de emoções. Teve desde a estrelíssima Elza Soares enaltecida pela Padre Miguel e ovacionada pelo povão, passando pelo Rio dos sonhos de Paulo Barros – de volta à Tijuca -, ao tombo ‘elegante’ da cantora Lexa, rainha de bateria da Vila Isabel, até a surpreendente e arrebatadora comissão de frente da Beija-Flor, que, junto com a Mocidade, volta a brigar pelo título depois de ter ficado em um modesto décimo-primeiro lugar em 2019. Portela, Mangueira, Viradouro e Grande Rio, que desfilaram no domingo (23) também estão na briga pelo título de campeã.
A São Clemente abriu os trabalhos, com o enredo que enfocava ‘O Conto do Vigário’ com o rol de espertezas e ‘jeitinhos’ que há tempos assolam as relações sociais e políticas. Na crítica bem-humorada, destaque para a bateria de ‘laranjas’, a ala da grávida de Taubaté e o humorista Marcelo Adnet, autor do samba-enredo da agremiação, que encarnou o presidente da República, com direito a fazer ‘arminha’ com a mão. “Hoje temos o conto do vigário institucionalizado. Mas o samba propõe uma virada, uma mudança nessa realidade”, declarou o artista.
A Vila Isabel contou, em forma e lenda, a história dos 60 anos de Brasília com o enredo “Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio”. O Abre Alas monumental, com mais de 70 m de comprimento foi um dos destaques. A rainha de bateria Aline Riscado estava belíssima, mas a apresentadora Sabrina Sato roubou a cena, desfilando ao lado de Martinho da Vila, patrimônio vivo da Vila e da cultura nacional.
O Salgueiro levou para a avenida a história de Silas de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, nascido em 1870. Multitalentoso, era também músico, compositor, ator, acrobata… “É um enredo necessário”, declarou a atriz Érika Januzza, musa da escola, que se emocionou com o desfile. A escola exaltou a representatividade, sempre fazendo referência ao circo, e trouxe Aílton Graça, encarnando Silas..
A rainha das rainhas, Viviane Araújo, brilhou mais uma vez e o carro de som, com os cantores fantasiados de bichinhos, foi um dos mais criativos.
A Unidos da Tijuca levou à Sapucaí o sonho de um Rio perfeito, idealizado pela mente criativa – e campeoníssima – do carnavalesco Paulo Barros, de volta à escola. ‘Onde Nascem os Sonhos’ desenhou um Rio com boas condições de saúde, educação, segurança e urbanização, bem diferente da cidade que nem água potável consegue oferecer aos moradores. A rainha de bateria Lexa caiu durante a evolução, mas, apoiada pelo mestre Casagrande, levantou e seguiu lindamente. “Já caí e levantei muitas vezes na vida. Eu levanto e sigo em frente”, declarou a cantora.
Um dos desfiles mais aguardados da noite, por homenagear a diva Elza Soares, de 89 anos, a Mocidade Independente de Padre Miguel contou a trajetória da ‘Elza Deusa Soares’, mostrando desde a menina que cantava levando a lata d´água na cabeça e que, no programa comandado por Ary Barroso declarou ter vindo do ‘planeta fome’, até a estrela internacional e referência para as mulheres negras, pobres, batalhadoras do pão de cada dia e do respeito que ainda está longe do ideal. Não é a toa que a letra do samba de Sandra de Sá exalta: ‘Essa nega tem poder!’.
Determinada a virar o jogo em relação a 2019, quando quase foi rebaixada, a Beija-Flor de Nilópolis causou impacto assim que iniciou o desfile. No Abre Alas, uma turma em motocicletas e figurinos ao estilo ‘Mad Max’ introduziu o enredo, de Alexandre Louzada e Cid Carvalho, ‘Se essa rua fosse minha’, que fala das ruas, estradas e caminhos da vida, desde a criação do mundo. Rotas da humanidade que, no carnaval, têm como destino a rua mais cobiçada: a Marquês de Sapucaí.
Agora é esperar a apuração da quarta-feira para ver que escola fez o melhor caminho para conquistar o título de campeã do carnaval carioca.