Por Sandro Barros
A crise econômica que assola o país abala o esporte nacional e o nosso vôlei masculino não foge a essa dura realidade. Somente na atual Superliga, a última antes das Olimpíadas de Tóquio, vieram à tona problemas financeiros de quatro equipes: o atual campeão, EMS Taubaté Funvic (SP) — que abriga parte do elenco da seleção, incluindo o técnico Renan Dal Zotto —; Botafogo (RJ); América Montes Claros (MG) e Ponta Grossa (PR).
Além do Botafogo, que desistiu de disputar a Superliga antes mesmo dela começar, outro time do Rio seguiu o mesmo caminho. O Sesc-RJ anunciou recentemente o fim do trabalho no vôlei masculino. Fundado em 2016, o Sesc tornou-se tricampeão carioca e disputava as primeiras posições da atual temporada da Superliga. Entretanto, o ótimo desempenho nas quadras não foi o suficiente para a manutenção dos investimentos e o clube saiu da competição.
Outras equipes da elite do vôlei masculino também passam por apuros, entre elas o Maringá Vôlei (PR). Uma prova de que a situação é ruim está no exemplo de Ricardinho, presidente do clube paranaense, que voltou a jogar aos 44 anos de idade. O levantador campeão olímpico também aceita uma vaquinha virtual para tentar manter o time na Superliga.
Diante da crise e sem receber salários em dia, os atletas se viram como podem. É o caso de Daniel Rossi, líbero do Maringá, que decidiu vender o carro para colocar as contas em dia. Ele teve de se desfazer do Gol prata 2010 por um valor abaixo dos R$ 16,8 mil da tabela. O dinheiro foi usado para cobrir as despesas com cartão de crédito, internet e celular, entre outras coisas.
Por conta da crise, o Maringá já perdeu sete atletas. Restaram apenas 11, entre eles o próprio Ricardinho. O técnico Anderson Fernandes explica que o número ideal para a disputa do torneio seria de 18 jogadores. “Nosso grande desafio é não deixar que os problemas externos atrapalhem o rendimento. Com todas as dificuldades, ainda estamos na zona de classificação para a próxima fase”, disse.
O Maringá não recebe há quatro meses repasses de seu patrocinador exclusivo, a empresa de treinamentos e consultoria DenkAcademy. Mesmo caso em que se encontra o Denk Maringá Vôlei, que realiza boa campanha na Superliga masculina e que também é patrocinado pela mesma empresa.
Há jogadores, dirigentes e especialistas em vôlei que responsabilizam a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) pela crise. Eles criticam o fato da entidade ter posse dos direitos de imagem dos atletas, além de exclusividade pelo orçamento das transmissões. Para muitos, as contrapartidas da CBV são inexpressivas: a confederação banca as passagens aéreas em jogos fora de casa e ajuda no custeio de equipamentos de jogo, além do pagamento da arbitragem. A falta de gestão eficiente dos clubes, em que muitos ainda são geridos de forma amadora e não buscam outras fontes de receita a não ser pelo patrocínio máster, também é apontada como um dos fatores pela crise.
É nesse cenário que o Brasil — que se tornou ao longo dos anos em uma referência no vôlei masculino — vai tentar manter seu lugar ao sol em Tóquio. Será isso uma real possibilidade ou um delírio?