Por Patrícia Gurgel, médica
O Centro de Controle de Doenças da Coreia do Sul informou recentemente que 116 pacientes que eram considerados curados voltaram a dar positivo alguns dias depois. Essas observações também ocorreram em outros países. Esses casos levam a questionamentos sobre a reação imune ao novo Sars Cov2. Uma pessoa pode se contagiar mais de uma vez? Quanto tempo a pessoa ficará imune ao vírus depois de ter pego a infecção? Existe um nível mínimo de IgG que garanta a imunidade?
Somado a isso, muitos países estão tendo dificuldades nas interpretações dos testes disponíveis. Devido a isso, no dia 24 de abril a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que não há evidências de que pessoas que tem IgG positivo para o novo coronavírus sejam imunizadas e protegidas de uma nova infecção, estimando que a emissão de ‘’passaportes imunológicos” pode acabar promovendo a propagação da epidemia. Ou seja, com os dados atuais não existem evidências que suportem a liberação dos pacientes que testaram positivos.
Mesmo esses por enquanto devem continuar mantendo os mesmos cuidados preventivos (isolamento, distância, uso de máscaras, lavagem das mãos), até que haja uma validação adicional. Existe o receio que a possibilidade de reinfecção possa causar novas ondas pandêmicas subsequentes. Ainda é muito cedo para saber quanto tempo esses anticorpos permanecem no organismo de maneira protetora.
Outra questão importante é: o quanto fatores pessoais, como idade e doenças associadas, e até mesmo genéticos influenciam na evolução da doença? Somado a isso, o quanto a carga viral (quantidade de vírus com a qual a pessoa se infectou) irá influenciar na gravidade da doença? Essas perguntas vêm sendo muito estudadas, mostrando realmente que existem condições pessoais que favorecem um pior prognóstico. A carga viral parece também ter relação, devido a isso enfatizasse a necessidade dos cuidados preventivos eficientes.
E quanto às medicações e vacinas?
A OMS lançou, também em 24 de abril, uma iniciativa de colaboração para medicamentos, testes e vacinas chamada de Acess To covid tools accelerator, que irá tornar as informações e novas descobertas contra a doença acessíveis ao mundo inteiro. Quanto às vacinas, ao menos 76 pesquisas estão em andamentos e cinco delas já estão em fase clínica.
Quantos aos remédios, cientistas e autoridades continuam os estudos na busca de tratamento. Para que ele seja declarado eficaz e que se tenha certeza dos riscos/benefícios, muitos estudos precisam ser concluídos. A recomendação é seguir as orientações médicas e não se automedicar. Entre os medicamentos estudos estão a Hidroxicloroquina, associada ou não à azitromicina, ivermectina, Anitta, antivirais utilizados para Ebola e antiHiv, anticoagulantes, dependendo dos sintomas da doença, e tratamento com plasma de pessoas que possuem anticorpos.
Vários estudos estão sendo realizados no mundo inteiro, mas alguns deles são contraditórios. Alguns mostraram excelentes resultados com hidroxicloroquina e outros chegaram a ser interrompidos pelo aumento da mortalidade por arritmia cardíaca. Não achei na literatura estudos com azitromicina de maneira isolada para covid-19, mas estudos em outras doenças pulmonares mostram uma ação anti-inflamatória pulmonar e efeito benéfico em regulação da imunidade.
A ivermectina teve um estudo colaborativo liderado por uma Universidade na Austrália, mostrando uma redução significativa in vitro, porém estudos adicionais têm que ser aguardados para que seja avaliada eficácia em ambiente clínico e possíveis efeitos colaterais.
Quantos os questionamentos, tais como se essas medicações já não são bem conhecidas quanto aos efeitos colaterais, a resposta é: novos estudos são necessários porque os medicamentos são antigos, porém estão sendo usados em uma nova doença que tem particularidades distintas daquelas em que eles eram aplicados.
Sendo assim, o que podemos fazer de melhor?
Enquanto aguardamos conclusões definitivas, o que melhor podemos fazer é nos prevenirmos. A obrigatoriedade do uso de máscara em alguns estados e municípios me deixou extremamente feliz. Acho que ainda falta uma melhor divulgação na mídia sobre como fazer a melhor máscara caseira possível e outras proteções de face.
Venho estudado intensamente tecidos diferentes com tramas, materiais e gramaturas diversas. Faço testes caseiros mesmo, com aerossol de desodorante. Também jogo água com borrifador e também quantidades grandes para avaliar a retenção e olho a trama através de uma luz.
Para mim, o tecido ideal, já que o teste para avaliar a filtração do vírus não consigo fazer em casa, seria aquele que tivesse na camada externa a capacidade de repelir a água e não absorvê-la. Estudei vários e gostei muito da malha de Neoprene. Achei leve, confortável, não é caro, não aquece, não dá sensação de sufocamento e segurou a água por muito tempo. Em termos de aerossol, não deixou passar nada.
Gostei também do Neoprene com gramatura maior, também da microfibra, gabardine, lycra. Já a camada interna, se possível, deve ser absorvente pelo menos parcialmente. Isso manterá a máscara mais seca, trará conforto também e, caso passe alguma gotícula ou no caso da pessoa que usar estar infectada, o tecido absorvente ajudará em termos de facilitar manter as gotículas ou aerossol no tecido. Alguns estudos mostram que a desidratação do vírus influência sua viabilidade. Sendo assim, a camada interna pode ser algodão, Helanca Light, por exemplo.
Quanto ao modelo, acho que aqueles tradicionais das máscaras cirúrgicas deixam uma abertura lateral maior, então não gosto muito. Prefiro os com uma costura central embutida. Acho que dessa maneira a máscara fica um pouco mais afastada do nariz e boca, trazendo conforto e segurança, mas ao mesmo tempo a vedação total melhora muito também (teste soprando para ver embasamento no espelho). Além de tudo isso, podem ser adicionados filtros de papel ou TNT, ou mesmo absorventes, para melhorar a qualidade da máscara caso você já tenha máscaras e elas não estarem adequadas, por exemplo, no teste do aerossol.
Outra maneira de melhorar a proteção será utilizar, além da máscara, uma proteção de face feita de Pet, acetato ou PVC. Caso opte por não utilizar a proteção adicional de face, teste seu tecido para ver se ele é suficiente e use óculos, porque a infecção pode ser por via ocular também. Troque sua máscara sempre que estiver úmida. Então saia sempre com máscaras limpas adicionais.
Após múltiplas lavadas o tecido pode mudar sua característica. Quando isso acontecer despreze a máscara. Sempre antes de colocá-la e retirá-la esteja certo que suas mãos estejam limpas. Saia de casa já com a máscara, pois você pode se contaminar desde o elevador, por exemplo.
Fotos das máscaras: Divulgação