Toda história da nossa região serrana remonta ao ano de 1700, quando o bandeirante Garcia Rodrigues Paes Leme, filho do ‘Caçador de Esmeraldas’ Fernão dias Paes, partiu do lugarejo de Paraíba do Sul em direção à serra do Tinguá, abrindo pelas montanhas um caminho que reduzisse o tempo de viagem entre as Minas Gerais e a Corte Portuguesa, instalada na cidade do Rio de Janeiro. Acompanhado por mineradores, fazendeiros e escravos, o bandeirante alcançou a Roça do Alferes (hoje Acozelo), seguiu em direção à serra até as localidades de Marco da Costa e Vera Cruz. A partir daí, as tropas de exploração subiram os morros, no sentido da atual Lagoa das Lomtras, de onde desceram para o Porto de Pilar ─ hoje Duque de Caxias ─, seguindo até o porto do Iguaçu, de onde seguiram, via pluvial, para o Rio.
Este caminho ficou conhecido como “Caminho Novo de Minas” e favoreceu, entre outros, dezenas de sesmeiros ─ pessoas que recebiam do magistrado português terras por doação para cultivo ─, que vieram a se estabelecer nas colinas. Dentre os colonizadores da região se destacou Manoel de Azevedo Mattos. Vindo das Minas Gerais, resolveu instalar-se no Morro da Viúva, onde construiu, em 1770, a primeira moradia da Fazenda da Piedade de Vera Cruz (atual Santa Cecília), no estilo colonial, concluída em 1780.
O filho de Manoel, Inácio de Souza Werneck, foi fazendeiro, sargento-mor das milícias do Império e Cavaleiro da Ordem da Rosa, tornando-se um dos personagens mais importantes da região. Ele colonizou Vera Cruz e ampliou as instalações da importante fazenda da Piedade. Da sua união com Francisca das Chagas Werneck teve filhos que se uniram a outras pessoas importantes, deixando assim numerosas famílias de nobres espalhadas pelo Sul Fluminense. Em 1811, ao ficar viúvo, Inácio abraça a carreira eclesiástica, abandonada quando ainda jovem, e no ano de 1813, em cerimônia realizada na própria fazenda, foi ordenado padre. O fazendeiro passou a ser conhecido como padre Werneck de Vera Cruz.
Com a morte de seu pai Inácio, Ana Matilda, casada com o fazendeiro Francisco Peixoto de Lacerda, herda a fazenda da Piedade (atual Santa Cecília). O casal teve somente um filho, Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, que recebeu mais tarde, por ordem do Imperador Dom Pedro I, o título de Barão de Paty dos Alferes. O barão, em 1840, realizou, no apogeu do ciclo do café e com a importância histórica da fazenda, uma grande reforma em seu estilo colonial (inicial) para o neoclássico. Foi, sem dúvida, uma grande personagem da história. Homem culto, aristocrata e político, proprietário de grandes plantações de café, de vastas áreas de terras e de um grande número de escravos. Foi de grande importância no desenvolvimento da região, graças ao seu bom relacionamento com a Corte.
A Fazenda Santa Cecília, está localizada no município de Miguel Pereira, distante 15 km do centro da cidade, no Distrito de Vera Cruz. A fazenda possuía uma senzala, um espaço para secagem de café e um moinho de cana. Com as reformas feitas ao longo dos anos, as pedras de secagem do café foram reaproveitadas para fazerem o caminho da piscina. Grande parte de sua arquitetura e mobiliário foram mantidos intactos pelos atuais proprietários. Nos jardins se encontra uma capela dedicada à Santa Cecília, desenhada e projetada pelo arquiteto Oscar Niemayer e presenteada a Maria Cecília, filha de seu grande amigo e proprietária da fazenda, que mantém e preserva com muito zelo este patrimônio histórico de nossa região.
O jornal Diário do Rio agradece as informações cedidas pela Prefeitura e pelos informativos do historiador Sebastião Deister.