Por: Claudia Mastrange
Foi um soco no estômago. Em pleno Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, o país inteiro assistiu estarrecido às imagens de um homem negro, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, ser espancado e morto por dois seguranças brancos em uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. O crime gerou manifestações de repúdio e o Carrefour de São Paulo foi invadido e depedrado.
As agressões – que aconteceram na quinta-feira, 19 de novembro- e a imobilização de João Alberto duraram mais de cinco minutos. Na tarde desta sexta-feira (20), os dois agressores, o policial militar Giovane Gaspar da Silva e o segurança Magno Braz Borges foram presos em flagrante e tiveram a prisão preventiva decretada.
De acordo com as análises iniciais do Instituto Geral de Perícias do RS (IGP-RS) a asfixia é a possível causa da morte de João Alberto. Outros exames laboratoriais serão realizados e os laudos definitivos devem ser concluídos nos próximos dias. O corpo foi levado aos Departamentos de Criminalística e Médico-legal ainda na quinta e foi liberado na tarde desta sexta-feira.
João Alberto havia ido fazer compras com a esposa quando, segundo relatos, teria ocorrido um desentendimento com uma funcionária do local. Ela chamou a segurança, que levou João Alberto para o estacionamento, onde ocorreram as agressões.
Amigo de João Alberto, Paulão Paquetá, declarou ter testemunhado a agressão e viu quando a vítima gritava que não conseguia respirar.“Aquele vídeo ali, cara, mostra toda a agressão que ele teve antes de vir a óbito. Além de agredirem ele, deram um mata-leão nele, asfixiaram ele. Pessoal pedindo para largarem ele, para deixar ele pra respirar, porque ele gritava que não conseguia respirar, eles não largaram, quando largaram ele já estava roxo, já estava sem respirar”, relatou Paulão,explicando que foi ao supermercado para fazer compras e, ao chegar, viu o amigo sendo agredido.
O Carrefour informou, em nota, lamentar profundamente o caso e informou já ter iniciado rigorosa apuração interna e que tomou providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente. A rede atribuiu a agressão a seguranças, chamou o ato de criminoso e anunciou ter rompido o contrato com a empresa que responde pelos funcionários agressores.
Manifestações e depedração
Um grupo protestou contra a morte de João Alberto, com faixas, cartazes e palavras de ordem,, em frente ao Carrefour, em Porto Alegre, onde aconteceu o assassinato. No Rio de Janeiro também houve manifestações dentro de unidades da rede. Algumas pessoas carregavam cartazes e pediam Justiça. Em um dos protestos, um rapaz vestido de preto deitou no balcão de um caixa com o rosto pintado de vermelho e um cartaz no peito escrito “até quando?”.
Em São Paulo, durante a 7ª Marcha da Consciência Negra, um grupo entrou na unidade da rua Pamplona, ateou fogo em produtos, quebrou vidros e danificou ao menos um carro no estacionamento, ao final da 17ª Marcha da Consciência Negra.
O ato convocado por organizações do movimento negro com o tema “Vidas Negras Importam pediu melhorias para a vida da população negra, lembrou Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio em 2018, e também pediu justiça pela morte de João Alberto.
A população brasileira já não aguenta mais tanta violência e injustiça e exige que esse crime bárbaro seja apurado e os assassinos exemplarmente punidos.