Por Claudia Mastrange
As consequências da pandemia da Covid-19 não são sentidas pela população somente no sistema de Saúde, em colapso por conta do aumento da contaminação e da procura por leitos de UTI, o que tem feito as medidas restritivas serem ampliadas, não só no Rio mas em várias regiões do país. Além de tanto sofrimento pela doença, o povão tem enfrentado uma avalanche de aumento nos preços de alimentos e serviços básicos. Pelo visto, independente do vírus, sobreviver é para os fortes.
Está ficando até difícil acompanhar tanto reajuste e contabilizar os prejuízos no orçamento. No Rio, o do gás de cozinha, que teve o 2º aumento do ano, já está valendo desde o dia 9 de março, mas nada é tão ruim que não possa piorar: na sequência veio o aumento da energia elétrica e já, já o reajuste do preço da passagem do metrô, que pode saltar para R$ 6,30.
No caso do gás, o reajuste dado pela Petrobras foi de 5,1% (R$ 0,14 a mais por quilo). Com isso, o botijão de 13kg passou de R$ 35,98 para R$ 37,79 nas refinarias.
A conta de luz, puxada pela alta nos custos da compra de energia e do dólar, ficou mais cara a partir de 15 de março. A Aneel aprovou os reajustes nas tarifas da Light e da Enel Rio, antiga Ampla. O diretor-geral da Aneel, André Pepitone, afirmou que o aumento médio nas contas de luz em 2021 deve ser o maior desde 2018, chegando ao índice de 13%.
No Rio, clientes residenciais (de baixa tensão) da Light tiveram aumento de 4,67%. Já os da Enel, que atende Niterói, Região dos Lagos e o Norte Fluminense, reajuste de 4,65%. Para os consumidores industriais (de alta tensão) da Light, o aumento médio é de 11,83%. E no caso da Enel Rio, de 10,38%. Com isso, a Enel passa agora a ter a tarifa mais cara do Brasil, enquanto a conta da Light fica como a terceira mais alta.
O transporte público, que tem se mostrado um dos grandes problemas durante a pandemia, com superlotação constante, além das já conhecidas – e de longa data – péssimas condições de serviço para atender a população, também está com os preços em disparada. Primeiro houve o reajuste nos preços dos trens. A passagem passou a custar R$ 5, a partir de 23 de fevereiro. Isso porque o Governo do Estado e a SuperVia assinaram um termo aditivo ao contrato de concessão do sistema ferroviário para que o aumento fosse mais baixo do que o previsto.
Antes do acordo, segundo o governo, a passagem passaria de R$ 4,70 para R$ 5,90. O governo divulgou ainda que o objetivo das negociações era definir um reajuste tarifário mais condizente com o atual cenário socioeconômico, “fortemente atingido pela pandemia do novo coronavírus, diminuindo o impacto para o usuário”.
Na fila de aumento dos transportes, o próximo é o da tarifa do metrô, que pode ser de até 26%, conforme autorizou a Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes do RJ. Se aprovado, a passagem unitária, que hoje custa R$ 5, ficaria R$ 1,30 mais cara a partir de abril. O governo do estado, no entanto, disse que irá tentar negociar um reajuste menor.
E o preço dos remédios? Parece até ironia mas, em pleno momento de crise no sistema de Saúde, o cidadão que precisar comprar uma medicação, vai pagar mais caro. A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) estabeleceu uma variação de 4,88% para um dos fatores que compõem os preços de remédios no Brasil. O índice foi publicado na edição de 15 de março do “Diário Oficial da União”.
No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, por conta da pandemia, firmou acordo com a indústria farmacêutica para que o reajuste anual de todos os remédios fosse adiado pro 60 sias. Mas, pelo que vemos, a pandemia esta longe de acabar, mas os aumentos, retornaram com força total.
A percepção de que os preços há meses vêm numa crescente já tem sido sentida pela dona-de casa. Basta ir ao mercado para perceber a disparada de preços em itens básicos da alimentação. O arroz virou até meme em 2020, por conta dos aumentos absurdos, o feijão também teve seu preço elevado e o óleo de soja foi reajustado em mais de 100%. A carne bovina tem sido trocada por carne de frango e suína , já que, até os ovos estão com preços elevados. Será que nem à cesta básica o brasileiro tem mais direito?
O preço da gasolina é um capítulo à parte, pois beira o surreal. Semana passada os brasileiros foram surpreendidos com um novo aumento de preço, o 6º reajuste em 2021. O combustível ficou 8,8% mais caro nas refinarias e, a partir de 9 de março o litro passou a custar R$ 2,84. Desde o início do ano, acumula alta de 54% nas refinarias.
O preço do diesel também teve reajuste, o 5º no ano. O valor do litro subiu 5,5% e passou a custar R$ 2,86. No acumulado desde janeiro, o combustível já soma alta de 41,6%.
Os aumentos afetam toda a cadeia econômica e pesam no bolso, sobretudo de quem sequer tem carro. As altas elevam os preços dos alimentos, por exemplo, já que impactam no custo da produção agropecuária e no escoamento. Há impacto ainda no valor dos transportes, frete de encomendas, remédios etc.
Impacto da alta da inflação recai diretamente nos mais vulneráveis
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em 11 de março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Considerado a inflação oficial do país, o IPCA ficou em 0,86% em fevereiro, depois de ter subido 0,25% em janeiro. A taxa é a maior para o mês desde 2016, quando ficou em 0,9%. No ano, a alta já acumula 1,11%. Segundo o IBGE, a principal influência de alta veio da gasolina. Sozinho, o item foi responsável por 42% da inflação de fevereiro.
Para o advogado e economista Alessandro Azzoni, esse impacto da inflação preocupa, pois atinge diretamente as famílias com menos recursos. “Temos um cenário com inflação alta, preços subindo e muitas pessoas completamente sem renda, vivendo de auxílio emergencial ou de outros benefícios do INSS. Para essas pessoas, o dinheiro está valendo muito menos, pois o impacto acontece diretamente no consumo dessas famílias. E são itens básicos, então realmente isso é muito preocupante”, alerta.
Azzoni cita alguns números acumulados no ano passado, quando o óleo de soja subiu 104%, o arroz 76%, o leite longa vida 27%, a carne 18% e o tomate 53%. “São itens presentes na cesta básica do brasileiro, que acabaram puxando muito essa variação da inflação. Agora, teremos o impacto do IGPM – que ajusta praticamente todos os contratos vinculados, como energia, concessionárias de serviços públicos, contratos de aluguéis. Como ele já acumula uma alta acima de 20%, provavelmente teremos um risco maior dessa inflação do primeiro trimestre de 2021 ser ainda maior”, alerta o especialista.
Ou seja, diante e tantos aumentos e com o desemprego batendo recorde , com mais de 13 milhões de desempregados no país e o auxilio emergencial em suspenso, aumentando ainda mais a fila da miséria, o cenário é revoltante. A regulação da economia precisa ser feita, mas a população já não suporta mais ser penalizada.
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