João Diamante era formado em Engenharia Elétrica e trabalhava numa multinacional americana com filiais no mundo todo, inclusive no Brasil. Talvez por causa desta base educacional predominantemente ligada aos cálculos, planilhas e estatísticas, era fascinado por tecnologia. Deslumbrava-se com todas as novidades advindas desta área do conhecimento e, inclusive na vida pessoal, podemos afirmar que se tratava de um fanático pelos avanços inexoráveis do mundo virtual e suas ilimitadas possibilidades de progresso.
João era um desses sujeitos objetivos e práticos, que enxergam o mundo de um ponto de vista estritamente racional. Tudo na vida era – afirmou ele centenas de vezes nas redes sociais – uma relação lógica entre ação e reação, entre planejamento estratégico e resultados, entre cálculos bem feitos e metas auferidas. Por consequência, deduzia ele, existem os vencedores e os perdedores em todas as sociedades.
Vencedores são uma minoria formada pelos mais aptos, os empreendedores que estão à frente de seu tempo, que arriscam, inovam e enriquecem merecidamente. Perdedores, ao contrário, são os preguiçosos e despreparados sem capacidade de liderança, sem visão e timing mercadológicos. Estes são, infelizmente, a maioria das pessoas.
Diamante apaixonou-se pelas neurociências que, ao mapearem cientificamente o cérebro humano, conseguem descrever com precisão quase matemática, o comportamento de homens e mulheres. Trata-se dos chamados gatilhos, que estimulam nosso contato com a realidade externa e disparam as substâncias químicas necessárias à sobrevivência da espécie.
Evidentemente, uma visão assim tão racionalista da vida humana causava ao engenheiro certos dissabores existenciais. Por exemplo, João simplesmente não tolerava ouvir mesas redondas ou debates com os chamados intelectuais – sociólogos, filósofos, antropólogos e o pior de todos eles, os psicanalistas. Aquele blá-blá-blá inútil e enfadonho que engana os incautos e superficiais que não possuem o mínimo conhecimento de epistemologia e pensamento dedutivo, analítico. Existe algo mais terrível que ouvir estes pseudossábios universitários, discorrendo sobre a Grécia antiga ou sobre o vazio do homem contemporâneo?
Sim. Para João Diamante existia algo ainda mais melancólico e deletério do que as bobagens ditas pelos intelectuais. O nosso engenheiro definitivamente não suportava as religiões e suas crendices manipuladoras.
Francamente, será que alguém ainda leva a sério – depois de todos os avanços tecnológicos do Ocidente – as falácias que as pessoas simplórias costumam chamar de Deus, diabo, pecado, salvação e quejandos?
Será que os ingênuos não percebem que estão sendo ludibriados há séculos por sacerdotes, pastores, gurus, endinheirados e inescrupulosos?
João imaginava que num futuro bem próximo, os seres humanos finalmente alcançariam a maioridade intelectual e se livrariam definitivamente destas ilusões que, afinal de contas, só trouxeram guerras e obscurantismo à civilização.
Mas, como a condição humana é absolutamente enigmática, no dia 10 de dezembro de 2015, sem quaisquer queixas aparentes e certamente usando de sua grande capacidade lógica, o engenheiro João Diamante, depois de jantar com a namorada no sofisticado restaurante IN LOVE nos Jardins em São Paulo, estacionou repentinamente o carro no acostamento de um conhecido viaduto, caminhou lentamente olhando a noite escura e se jogou de uma altura de 40 metros de altura.