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Caricatura, sátira e o escárnio dos periódicos do século XIX, usados como armas

A Guerra do Paraguai – a Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Uruguai e Argentina) foi considerada a guerra mais longa, cruel e sangrenta da história das Américas, depois da Guerra Civil dos Estados Unidos. Um conflito de interesses políticos e econômicos que teve início em dezembro de 1864 e se estendeu até março de 1870.

O  Imperador Pedro II do Brasil inquieto com a expansão paraguaia entra no jogo e apoia o chefe dos Colorados Venâncio Flores e o presidente da Argentina Bartolomeu  Mitre formando, assim, a Tríplice Aliança cujo objetivo era a derrota do adversário e a sua reparação.

O Paraguai, em plena ascensão, era uma nação  modelo de desenvolvimento econômico e industrial único, uma nação, agrária que havia passado por uma modernização exclusivamente no exército que apresentava um alto grau de  alfabetismo. Era governado , de maneira ditatorial, por Francisco Solano Lopez, personalidade megalomane, visionário  convicto de seus talentos e do poder do seu país, fato que estava longe da realidade. Sonhava em ser um Napoleão da América do Sul e alimentava o desejo expansionista e militarista de formar o grande Paraguai.

A imprensa brasileira quanto a paraguaia  tiveram  um papel importante como parte integrante do esforço empreendido pelos dois países envolvidos no grande conflito bélico. Atualmente,  nos deparamos com jornais e revistas multicoloridos, sedutores, com grande quantidade de imagens que auxiliam no entendimento do texto. Essa capacidade que a imagem possui foi largamente utilizada, no século XIX, pela imprensa brasileira e paraguaia, durante o grande conflito armado que marcou a construção das identidades dos países da América Latina.

As representações construidas na guerra, possívelmente, não teriam prosperado sem a participação das imagens que circularam na imprensa em charges e caricaturas. A irreverência foi a chave utilizada, tanto pelo lado paraguaio, quanto pelo brasileiro, para retratar o inimigo a ser vencido, mas por trás dessa crítica despudorada evidenciava uma gama de preconceitos existentes e que estavam sendo construídas e massificados entre os povos em conflito.

A partir da segunda metade do século XIX a produção de revistas ilustradas predominou na imprensa brasileira com conteúdo satírico-humorístico e ilustrações impressas,  consolidando, assim, um padrão gráfico e visual, mais ou menos estável, com uso recorrente da  litografia como técnica e linguagem. O talento e inventividade dos ilustradores e gênios desenhistas estrangeiros (Fleiuss, Agostini e Bordalo) que comandavam a publicação dos periódicos  Vida Fluminense, O Alerquim, O Mosquito, O Mequetrefe   e a Revista Ilustrada,  tiveram participação preponderante  na imprensa , gerando uma cultura de consumo de imagens.  Esses periódicos  circulavam na Corte do Rio de Janeiro, então Capital do Império.

Durante o conflito, houve da parte de Solano Lopez e do grupo que o apoiava o interesse e o  investimento na criação de periódicos que servissem aos interesses da propaganda de guerra do governo paraguaio, bem como da elevação do moral das tropas. Os textos eram especialmente direcionados aos soldados e possuiam dentre suas características o coloquialismo e o apelo constante ao humor e ao riso de seus leitores através do sarcasmo, da degradação e da depreciação do inimigo. O Cabichuí , Cacique Lambaré e o Centimela foram os porta-vozes fiéis dessa concepção de nação em guerra, que consistiu em mobilizar todo um povo para o combate e em reorganizar a sociedade de acordo com as necessidades da causa. Eles levavam informações da guerra aos seus compatriotas, especialmente àqueles que se  encontravam nas frentes de batalha, de modo cômico e sempre exaltando os grandes feitos paraguaio no campo de batalha.  Os periódicos eram produzidos nas prensas do exército e por tal razão, grande parte de seus colaboradores eram militares, tais como o Capitão Juan Crisótono Centurion, o  Tenente Natalício   Talavera,  Victor Silvero e padre Fidel Maiz que escrevia para o Cabichuí.

A guerra contra o Paraguai, do século XIX, foi palco de muitas experimentações e pode ser entendida como a primeira a contar com uma cobertura jornalística que se exprimia por imagens, caracterizando os primórdios do foto jornalísmo no Brasil e da consolidação da imprensa brasileira.

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