Major Vânia Juliano foi adotada na infância, e enfrentou uma vida com bastantes dificuldades. Quando era adolescente, decidiu realizar a prova da PM e para estudar, buscava o material nos lixos da cidade. Em 1986, Vânia Juliano ingressou na PM.
Jornal DR1: Conta um pouquinho da sua infância.
Major Vânia Juliano: Eu nasci em 29 de maio de 1966, às 18hs, na Barreira do Vasco, quinta filha indesejada da minha mãe biológica, não a conheci e sinceramente nunca tive vontade de conhecer. Quando nasci, minha mãe resolveu me abandonar em um lugar qualquer, talvez no lixo ou numa praça. A minha mãe me deu para um casal, pobre, mas dispostos a me criar. A infância foi difícil, mudamos várias vezes de casa, passamos por muitas coisas, enchentes, falta de água, era preciso carregar água para o consumo; casa longe da escola, tinha que pegar carona no caminhão de lixo e por aí vai. Passamos por uma série de coisa, nos adaptávamos conforme a dificuldade.
Jornal DR1: Quem era sua maior inspiração? Por quê?
Major Vânia Juliano: Com certeza o meu pai. Lembro que ele vivia dizendo que deveria ter meu emprego, uma casa e um carrinho na porta. Ele quase não teve instrução, mas era muito sábio.
Jornal DR1: Quando decidiu realizar a prova da PM? Por quê?
Major Vânia Juliano: Na verdade, a ideia era servir na Aeronáutica, sempre gostei de azul. Com a morte de meu pai, as coisas mudaram muito. Uma amiga que também fazia normal avisou que o concurso para a PM estava aberto. Então, ela foi fazer curso preparatório, e eu pegava livros antigos e usados, no lixo, para estudar. E foi assim que consegui ter aprovação no concurso.
Jornal DR1: Quando entrou na PM?
Major Vânia Juliano: Entrei em 23 abril de 1986, na turma dos homens. Fui reprovada por morar próxima de uma comunidade e precisei lutar muito para provar que era digna de ser policial. Então como não tinha turma feminina, precisei entrar na turma com os homens. Graças a Deus, essa época passou.
Jornal DR1: Qual é a importância da PM na sua vida?
Major Vânia Juliano: A PM pra mim é praticamente tudo. Não existe uma profissão mais bonita que essa. Qual profissional coloca a vida em risco para defender terceiros?! Tudo que tenho devo a essa profissão: minha casa, cursos e até minha família, já que meu marido e meu filho são policiais.
Jornal DR1: Como foi o ingresso na carreira?
Major Vânia Juliano: Não posso dizer que foi um relacionamento muito tranquilo, fui reprovada por morar próximo de uma comunidade. Sabia que seria complicado, estava entrando em uma profissão onde a maioria são homens. Sempre fui guerreira, o meu pai me criou assim. Ser pobre não é sinônimo de ser desonesta ou indigna. Quando o meu pai faleceu, passei por muitas coisas, aliás, não se respeita uma senhora e uma adolescente, sem a figura paterna, principalmente pobre de uma comunidade. Hoje, posso dizer que conseguir, não é mesmo? 34 anos de profissionalismo, não foi fácil, mas posso gritar ‘Pai eu consegui’!
Jornal DR1: Qual momento que mais te marcou na carreira?
Major Vânia Juliano: Sou PM de sangue azul, uma tropa marchando ou uma sirene, despertam todos os meus sentidos. Tiveram vários momentos que me marcaram nesses 34 anos de polícia, como a primeira formatura, aprovação do meu filho ao Curso de Formação de Oficiais, o carinho dos militares que trabalharam comigo, conseguir a melhoria de reforma de um senhor que estava perdendo os membros inferiores, entre outros.
Jornal DR1: Quais são os seus projetos para 2022?
Major Vânia Juliano: Confesso que não vislumbrava o momento de pedir reserva, gosto de trabalhar. Mas, quando chega ao posto máximo de sua carreira, não sobra muita coisa para fazer, a não ser ir embora. Infelizmente, no nosso país não valorizamos os veteranos, a experiência, e com a polícia não é diferente. Então, resolvi ir para casa descansar, ou quase isso. Agora, surgiu outro desafio, sou pré-candidata a deputada estadual e se conseguir o objetivo, serão novas batalhas a serem vencidas.