Quando falamos em suicídio, temos que ter em mente que o assunto é muito complexo e não é como uma “receita de bolo”. Nos jovens, essa é uma das três maiores causas de morte no mundo. De acordo com pesquisa estimulada pela OMS (Organização Mundial de Saúde), em 2019, uma a cada cinco pessoas entre 15 e 19 anos luta contra algum tipo de transtorno mental que pode vir a fomentar indícios suicidas.
No entanto, a médica psiquiatra, Dra. Beatriz Fonseca, explica que casos suicidas não estão necessariamente relacionados a algum tipo de psicopatologia: “É perceptível que a grande maioria dos casos de depressão de nível elevado não são suicidas. Dessa forma, esses episódios não estão obrigatoriamente ligados a um transtorno mental ou a uma psicose. Podem estar ligados a uma fragilidade que pode ser pessoal”, explica ela.
Segundo a especialista, não existe uma regra para identificar jovens nessas condições, mas sim condutas vindas dessas pessoas, ou seja, determinadas atitudes devem sempre ser observadas com muito cuidado. De qualquer maneira, cada indivíduo se expressa de um jeito diferente, fato que coloca em destaque a importância da não generalização sobre o comportamento desses jovens.
Para esclarecer dúvidas sobre esse assunto tão delicado e importante, mas que, novamente, não está sempre relacionado a doenças mentais, a psiquiatra respondeu algumas perguntas sobre o suicídio entre esse grupo e como avaliar, de maneira correta, jovens em condições suicidas.
Em primeiro lugar, de acordo com a Dra. Beatriz, não há uma causa específica para o enquadro de jovens nessa situação: “O que há é um conjunto de elementos que torna o indivíduo mais propenso a pensar no suicídio como a solução de seus problemas. O aspecto universal nesses adolescentes é a incapacidade de encontrar uma solução viável para seus obstáculos, e a falha em utilizar estratégias de enfrentamento dos estressores que se apresentam”, explica.
Sobre essas estratégias, a médica diz que são construídas aos poucos, desde a primeira infância quando os problemas são apresentados. Dessa forma, a criança aprende a solucionar suas questões por meio do acompanhamento dos responsáveis. Quando o jovem cresce com a ausência do aprendizado em resolver dificuldades, ainda há tempo de reverter a situação exatamente com a assistência e orientação de pessoas de confiança e profissionais médicos, como psicólogos e psiquiatras. “Ademais, existem outros fatores que colaboram para a formação de um jovem suicida, vide lares disruptivos e violentos ou até mesmo influência de elementos próximos ao indivíduo que cometeram suicídio” conclui a doutora.
Em relação a comportamentos que podem vir a ser indicativos aos familiares, amigos e profissionais na área da saúde, estão ações repentinas, agressivas, e opositoras: “É importante considerar que, durante a adolescência, esses tipos de comportamentos fazem parte do pacote de desenvolvimento humano. Entretanto, quando são repentinos e sobretudo excessivos, existe a possibilidade – novamente pontuando que esses tipos de atitudes não são normas, mas sim condutas comuns entre pessoas no quadro – do indivíduo refletir questões suicidas”.
A especialista comenta que a melhor forma de lidar com esses jovens é com o acolhimento. “Como lidar com esse jovem que você percebe que está com indícios suicidas, ou que possa estar se machucando com comportamentos autodestrutivos? A resposta é o acolhimento, e isso, da melhor forma que pode ser feito: escutando, tentando entender”.
A doutora complementa ressaltando o quanto é essencial o acompanhamento médico, psicológico e até mesmo psiquiátrico desses jovens. O acolhimento é um fator importante para a melhora, mas não é o suficiente, e por isso a necessidade de um profissional qualificado. “As duas medidas não se excluem, mas muito pelo contrário, se completam. O apoio familiar seguido de intervenções médicas torna-se um possível caminho para que a vítima suicida perceba que há outras formas de combater sua angústia mortal”.