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Religião: ainda um meio de demarcar o poder político e controlar a população?

Houve um tempo, na história, em que o Império Romano mantinha seu domínio pelo poder da espada, literalmente. Muitos cristãos foram perseguidos e mortos por defender suas crenças religiosas. Com o advento da República e da democracia, o chamado Estado laico veio em cena separando teoricamente o Estado e a religião. Digo ‘teoricamente’ pois muito se tem visto sobre ‘pactos’ que corroboram um vínculo institucionalizado entre o governo e certas práticas religiosas, em especial, na prática do cristianismo. Como resultado disso, a intolerância religiosa cresce com relação `as religiões marginalizadas por razões diversas. Enquanto o islamismo, por exemplo, sofre o estigma do terrorismo, as religiões de matriz africana sofrem com o racismo. 

O Brasil, do ponto de vista jurídico, é um país laico. A legislação brasileira, na forma da Lei número 7.716 de 5 de janeiro de 1989 e da lei número 9.459 de 15 de maio de 1997 consideram crime a discriminação de religiões. Também, no artigo quinto da Constituição Federal (1988), assegura-se a igualdade religiosa. Entretanto, apesar de todo aparato legal e do ecumenismo tradicionalmente presente em nossa cultura, as manifestações de intolerância religiosa têm sido frequentes e insidiosas por tramarem contra o estado laico de direito. Diante disso, parece certo afirmar que quaisquer que sejam as crenças e religiões, sejam cristãs, islâmicas ou afro-brasileiras, a tentativa de vinculação entre partidos e religião torna-a totalmente espúria e altamente manipulativa. 

Acredito que todos devam concordar que a dimensão metafisica e transcendente que marca a religião não se mistura com a esfera pratica e mundana da política, salvo algumas tentativas de manipulação ideológica. Sou cristã e respeito profundamente todos os credos, mesmo porque em minha família, como na maioria das famílias brasileiras, há a prática de várias religiões diferentes, às vezes, de modo simultâneo. Crescer com essa diversidade foi não somente intelectualmente instigante, mas foi sobretudo um exercício de respeito e tolerância. Por que não revisitemos, em uma perspectiva mais crítica, nossas raízes de um Brasil colonial, parte oriundo da casa grande, parte da senzala? 

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