Giowana Cambrone, nascida em Unaí, Minas Gerais, atualmente com 42 anos, é advogada, professora de Direito das Faculdades Integradas Helio Alonso (FACHA), e ativista de Direitos Humanos, militando especialmente pelo direitos de pessoas transgênero.
Giowana se percebeu diferente do padrão hétero-cis-normativo já desde criança. “Eu me lembro que certa vez estava assistindo a um programa do Silvio Santos, o Show de Calouros, em que havia uma apresentação de transformistas. E num dado momento, ele perguntou para uma daquelas transformistas como ela se sentia. Ela deu uma resposta que hoje seria considerada ruim, mas que falou para a minha realidade. Ela disse que se sentia uma mulher presa num corpo de homem. E a partir daquele momento eu me entendi melhor. Passei a pensar: ‘eu não estou sozinha, há outras pessoas comigo’. Mas eu morava no interior de Minas e havia muito preconceito. Sentia-me não acolhida. Sentia-me culpada, anormal e até pecadora. Mas tudo isso já foi superado.”
Como ativista dos direitos das pessoas transgênero, a advogada salienta o que o público poderiam fazer para colaborar com a melhoria da qualidade de vida da população trans: “ É tanta coisa, mas ao mesmo tempo é tão simples. O que mais pesa é o desrespeito. É como se a sociedade quisesse invisibilizar as pessoas trans. Mas elas existem. São uma realidade que a maioria não quer enxergar. São corpos que transgridem o gênero. “Anormais” para os padrões e relegados à margem social. O não reconhecimento das identidades trans é o principal problema. Dele originam os demais, como a dificuldade de acesso ao trabalho. O mercado de trabalho rejeita. Faltam oportunidades. Hoje, há uma estimativa de que 90% dessa população vive como profissional do sexo. Nunca, nenhuma população oprimida ou marginalizada no país, de mulheres, de negros ou outros, foi reduzida a praticamente uma só atividade econômica. E não estou aqui julgando quem faz isso por opção. A questão é que não pode ser a única opção.
Porque ou você trabalha, ou você não vive, você não se alimenta. Tem gente que acha que a pessoa trans vive de ar, ou de glitter, ou de brilho. Não, a pessoa trans tem que comer, tem que beber, tem que se vestir. Tem que fazer no mínimo duas refeições por dia. Tem que ter acesso à saúde e à educação. De vez em quando ir ao cinema.
No entanto, essas necessidades são negligenciadas. Enquanto o movimento LGBT está discutindo e reivindicando o direito civil, as pessoas trans tem que discutir o direito a suas necessidades mais básicas. Até mesmo as fisiológicas, como em qual banheiro podem entrar ou direitos sociais como trabalho, saúde e educação. Uma coisa impensável no século 21”
Foi precursora do pedido de nome social no registro profissional de advogados e advogadas na OAB, presidiu a Comissão de Direito Homoafetivo da OAB Leopoldina e foi vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero do OAB/RJ.
Como mulher trans é pioneira em diversos segmentos: foi a primeira a ocupar assento no Conselho Nacional de Políticas Culturais, é a primeira mulher trans a participar da comissão julgadora de um Tribunal Desportivo, foi a primeira assessora parlamentar trans da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e a a primeira professora de Direito do Brasil.
Hoje, é mestranda em Políticas Públicas e Direitos Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atua como consultora de Diversidade da YDUQS.