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“No trabalho quis ainda falar sobre e exaltar as religiões de matriz africana que fazem parte da minha caminhada”

Nyandra Fernandes atinou pra dança aos 16 anos – embora sinta que o desejo de dançar sempre tenha estado ali. Formada numa escola de dança contemporânea, não parou mais e, em 2021, em meio à pandemia, desenvolveu um “projeto audiovisual dançado”, como ela credencia o trabalho artístico homônimo coproduzido junto ao Festival Panorama e que hoje se torna o espetáculo “Elegbará”.

Dentre as muitas particularidades, “Elegbará” fala de corpo. O corpo preto, gordo e periférico que conversa com as ruas da cidade fazendo dela o seu palco. Na montagem, a pesquisa de movimento de Nyandra tem continuidade com outros bailarinos com perfis semelhantes ao citado acima, intencionando “educar” os olhos a verem todos os tipos de corpos no palco.

Na cena, uma dança afro-brasileira contemporânea, corpos gordos distintos, ancestralidade e possibilidades de ver a rua como é: uma grande encruzilhada que tem diversos caminhos onde a gente se encontra, se perde e dança. São utilizados ainda elementos ancestrais ligados ao candomblé, como padês (comida oferecida à Exu feita de azeite de dendê e farinha de mandioca com folhas de mamona). O projeto é realizado através de recursos do Prêmio Funarj de Dança 2022 e apresentado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro , Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro.

Nyandra acredita na importância de fazer com que a arte produzida por pessoas pretas e/ou periféricas alcancem lugares maiores, sendo também de extrema relevância dar visibilidade às produções feitas longe dos grandes centros. Nos últimos anos tem começado a desenvolver seu trabalho autoral, seu mais recentemente filme de dança, Elegbará, foi uma coprodução do Festival Panorama.

O Jornal DR1 entrevistou a artista Nyandra Fernandes que contou sobre sua carreira e seus projetos para o próximo ano.

Jornal DR1: Quando surgiu Elegbará?

Nyandra Fernandes: ‘Elegbará’ surgiu em 2021 da minha necessidade de falar sobre o meu corpo gordo, meus movimentos e as ‘amarras’ as quais meu corpo sempre foi submetido. No trabalho quis exaltar minhas particularidades, que conversam com as particularidades de muitas outras pessoas, e ainda falar sobre e exaltar as religiões de matriz africana que fazem parte da minha caminhada. Elegbara fala também de lugares não vistos como possibilidade de criação de arte contemporânea, longe dos grandes centros urbanos.

Jornal DR1: Qual é a importância da arte na sua vida?

Nyandra Fernandes: A arte tem uma importância grandiosa em toda minha caminhada, eu nasci e fui criada numa família muito criativa e inclinada à arte.  É na arte e pela arte que eu entendo a possibilidade de viver um mundo diferente, mais gentil e empático.

Jornal DR1: Teria alguma dica para os jovens que estão iniciando a carreira?

Nyandra Fernandes: Eu diria para não desistirem. Não é fácil e não vai ser, mas é possível! Ouçam também os conselhos dos mais velhos e se não concordarem pelo menos já sabem o caminho que não querem seguir. “Carroça não passa boi e orelha não passa a cabeça”.

Jornal DR1: Quais são os seus planos para 2023?

Nyandra Fernandes: Em 2023, quero ter a possibilidade de levar o espetáculo para o máximo de locais que conseguir. Quero que muita gente possa ver Elegbará e quero poder trocar sobre arte, cultura e religião de matriz africana com muita.

Jornal DR1: Qual é a maior necessidade dos artistas do Rio de Janeiro?

Nyandra Fernandes: Reconhecimento, fomento e união. Os artistas, especialmente os da arte corporal, não têm o prestígio que artistas de outros segmentos têm. Investimos nosso tempo e dinheiro em pesquisas, em aulas em trocas e muitas vezes não somos bem remunerados pelos nossos feitos.  Espero que o novo Governo entenda e dê os incentivos necessários, para que a dança seja reconhecida e tenha uma grande visibilidade.

 

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