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‘Homem-aranha’ do crime é preso subindo pelas paredes

Em 23 de dezembro, diversos jornais e sites noticiaram a prisão do ‘Homem-Aranha do crime’, que vinha aterrorizando bairros do Rio de Janeiro, como Tijuca e Grajaú, escalando e acessando condomínios e apartamentos para a prática de roubos. Não é a primeira vez que esse tipo de ação criminosa assusta os cariocas. O fenômeno também se repete em outros pontos do país, com certa regularidade. Diante dessa ameaça nas alturas, de quais cuidados os síndicos e moradores devem lançar mão para garantir a segurança em áreas, em tese, inacessíveis? Grades, alambrados, telas de segurança, sensores de presença, câmera.

“Na reportagem, são destacadas as recomendações dos condomínios para que os moradores instalassem redes e grades de proteção nas sacadas. Apesar de fazer isso ser melhor do que nada fazer, pois, afinal, são mais barreiras para serem rompidas, elas não servirão para detecção do invasor, e este é o ponto crucial para evitar o sucesso dos crimes. Devemos pensar que, antes de o invasor chegar às paredes e sacadas dos edifícios, na maioria dos casos, ele precisa antes ultrapassar as grades ou muros que separam o condomínio de uma área pública ou de uma outra área privada. Portanto, a primeira recomendação é para o condomínio prover uma proteção perimetral adequada e eficaz na prevenção e detecção de eventual invasor”, afirma Samuel Pereira, administrador de empresas de segurança privada, com MBA pela Fundação Getúlio Vargas em Gestão Estratégica de Serviços. 

Nessa tarefa, ele indica a instalação de sensores de detecção de massa de duplo feixe sobre os muros, pois possuem um feixe de infravermelho maior e que requer maior massa/volume para disparo e, assim, diminuem consideravelmente os disparos falsos provocados por pássaros, gatos, galhos de árvores, entre outros. “Importante frisar que, em área onde há grande vegetação, é necessária a poda para evitar que galhos fiquem cruzando os feixes dos sensores”, recomenda. Também vale apostar nas cercas de proteção, podendo ser a tradicional cerca elétrica ou a cerca helicoidal, também monitorada. É recomendada de forma concomitante a instalação dos sensores. A razão é que a cerca gera inibição pela ostensividade, e os sensores de infravermelho geram capacidade de detecção e segmentação da área invadida.

“Acoplado aos sensores e cerca, o sistema de proteção perimetral se completa com a instalação das câmeras. Desta forma, o sistema estará composto de sensores de infravermelho, cerca e câmeras e, ao ocorrer um disparo dos sensores ou cerca, a imagem do local exato é gerada automaticamente para quem deve monitorar as câmeras, o que normalmente é feito pela própria portaria do condomínio”, diz ele, que acumula 32 anos de experiência em segurança, sendo 25 anos dedicados a condomínios, atuando em uma das maiores empresas de serviços do Brasil e líder no segmento condominial, o Grupo Haganá.

Samuel alerta que uma sirene deve ser instalada em todo o sistema de proteção perimetral. Porém, ela não deve ser acionada automaticamente, pois, por melhor que seja o sistema, ocorrerão disparos falsos em alguns momentos. O acionamento da sirene deve ser sempre manual e feito por quem monitora o sistema. Sendo assim, quando de fato constatar-se um invasor, a sirene é acionada, avisando o invasor que já foi detectado e, também, os moradores de que algo real está ocorrendo. Nesse caso, eles devem trancar as portas do apartamento e aguardar a informação de volta de normalidade por parte da portaria. A iluminação protetora, ou seja, aquela que somente acende quando alguém se aproxima, também é uma ferramenta recomendada.

“Restou agora ampliar a proteção das unidades autônomas. Pois mesmo um sistema de proteção perimetral eficaz não garantirá 100% de prevenção para invasões. Para os apartamentos, recomendamos a instalação do sistema de alarme simples, ou seja, aquele em que são colocados sensores de presença em ambientes diversos, inclusive nas sacadas, monitorados tanto pelo morador como por uma central externa. Recomendamos, ainda, a instalação de sensores de abertura de portas. A instalação de câmeras nos ambientes internos dos apartamentos complementa o sistema e, normalmente, são imagens vistas apenas pelos moradores sob demanda, ou seja, quando estão fora do apartamento. Com essas ações, muito dificilmente você será surpreendido por um furto em seu apartamento e, principalmente, por um novo ‘Homem-Aranha do crime’”, garante.

João Alberto Ribeiro Britto é educador, palestrante e instrutor de diversos cursos em órgãos externos do governo e iniciativa privada na área de Gestão de Riscos e Crise, Inteligência Empresarial e Segurança Condominial. Também é instrutor Corporativo em Segurança de Ambientes e Risco no BB, vice-presidente do Conselho Comunitário de Segurança 6 CCS e vice-presidente da Associação Empresarial e de Moradores da Grande Tijuca. Com graduação em Administração, com ênfase em comércio exterior, e diversas pós, ele também conversou com a REVISTA DOS CONDOMÍNIOS. 

“Casos de furtos em condomínios praticados por assaltantes que escalam os andares e entram por janelas ou varandas não são novidade no Rio de Janeiro. No início dos anos 2000, assaltos foram praticados também na região da Tijuca e de Vila Isabel por meliantes que entravam pela varanda e furtavam todos os objetos de valor que existiam na sala do apartamento. Passados mais de 20 anos, essa modalidade de crime retornou à região da Grande Tijuca e, até a prisão do bandido, no dia 23 de dezembro de 2022, aproximadamente 100 apartamentos tinham sidos vítimas. Elas não necessariamente residiam em andares baixos. Em alguns casos, ele acessou apartamentos acima de 10 andares”, diz o entrevistado, diretor executivo da JA Consultoria de Segurança, treinamentos e investigação privada, e mais de três décadas de experiência no mercado.

Para ele, esse tipo de modus operandi demonstra que os assaltantes estão burlando os sistemas de segurança existentes nos condomínios e se aproveitando das falhas de implantação dos equipamentos. “Nas consultorias de segurança condominial que fazemos, notamos que o condomínio possui claras falhas de segurança, seja por falta de conhecimento técnico do síndico ou por ‘achar’ que, fazendo por conta própria, vai gerar economia. No final, acaba investindo de forma equivocada, e, após sofrer um furto ou roubo, somos chamados para detectar as fragilidades e propor as ações mitigadoras do risco”, conta ele, que segue em sua análise.

“Afinal, o lar é um ambiente sagrado e, em muitos casos, após a ocorrência, os moradores sentem-se inseguros e não conseguem mais residir no local, colocando a unidade à venda por valores até abaixo do mercado. Então, de uma forma geral, e sem visitar o local para identificar os pontos frágeis, o que pode ser feito para obstar especificamente esse tipo de investida criminosa e trazer a sensação de segurança aos moradores? Inicialmente, é importante ressaltar que nenhum item de segurança sozinho consegue obstar uma investida. A segurança efetiva é um conjunto de barreiras (física, tecnológica, instrutiva e normativa) que, uma vez integradas, dificultam sobremaneira as ações delituosas. Na JA Consultoria de Segurança, chamamos esse conceito que aplicamos de CPTEC, isto é, Capacitação, Procedimentos e Tecnologia.”

Portões velozes, fechaduras resistentes, câmeras com inteligência embarcada, iluminação com sensores de presença que informa a mesa da portaria quando há movimentação e sensores de perímetro ligados a uma empresa de monitoramento dificultam bastante a entrada de assaltantes no condomínio, aponta ele. Porém, importante dizer que todo esse investimento pode ser desperdiçado se os porteiros não forem adequadamente treinados e os moradores não tiverem a exata noção da sua importância no elo da segurança. “Por esse motivo, temos na empresa um Curso de Segurança para Porteiros e uma Palestra de Conscientização para os moradores. O condomínio com barreiras perimetrais físicas e tecnológicas, funcionários treinados e moradores conscientes já torna a investida criminosa bem difícil.”

De todo modo, caso o bandido consiga ultrapassar o esquema de segurança perimetral, há cuidados a serem tomados. “Varandas que possuem janelas devem ser trancadas no horário noturno ou em ausências prolongadas. A mesma recomendação deve ser adotada para a porta que dá acesso da varanda para o interior do apartamento. Sugerimos ainda colocar iluminação com sensor de presença no ambiente da varanda. Dependendo do tipo de sacada, altura do apartamento ou área com altos índices de ocorrências condominiais, pode ser necessária a instalação de grades internas. Outra medida interessante é ter alarme sensorial no ambiente da varanda e sala, acionando quando for dormir ou ausência prolongada”, finaliza.

 

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