Venho de uma família tipicamente africana, nasci no Gabão, na África Central. Por vezes, quando me perguntam onde se localiza o Gabão, sempre respondo com a mesma precisão: no mapa mundi, quando a linha do Equador sai do Brasil, do Amapá, o primeiro país que corta no continente africano é o Gabão…
…Recordo-me da casa de barro (Casa de Pau a pique, também conhecido como taipa de mão, taipa de sopapo e taipa de sebe) que eu também com minhas mãos pueris, pequenas e frágeis, ajudei a construir no vilarejo (Okondja) onde cresci até os oito anos com minha avó materna, minhas quatro irmãs, enquanto os meus pais moravam e trabalhavam na capital, Libreville, para que pudéssemos ter acesso à escola e ir além dos limites nos quais se esbarram os povos oprimidos pelo colonialismo e pela globalização. Aos oito anos, fomos à capital morar com os nossos pais.
Ali, encetava uma nova etapa da minha vida, em um tempo em que a ditadura era mascarada pelo domínio da política monopartidária no meu país, como em quase todas as nações da África colonizadas pela França. Nessa idade, eu já entendia que não poderia contar com a sorte, e o único meio de mudar a minha história estava no banco da escola, como me dissera o meu pai.
Ainda bem que a Educação no Gabão era gratuita e de qualidade! Mas quando no segundo grau, passei por um período turbulento. Na verdade, minha vida estudantil foi marcada por um evento, ocorrido entre os anos 1990 e 1993, em que o meu país presenciou a chegada da Democracia Multipartidária. Tal situação me fez perder dois anos escolares. Todavia, graças ao sistema governamental internacional de distribuição de bolsas do Gabão e a cooperação com o Brasil.
Vim ao Rio em 1996 por intermédio do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). Formei-me cirurgião-dentista pela extinta UGF; depois, Farmacêutico (UGF), Mestre e Doutor (UERJ). Naturalizei-me brasileiro em 2013, propulsado pelo nascimento da minha filha.
Preciso dizer algo aqui: fui aprovado no concurso para o Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI e chamado em 2011, mas não assumi por ainda ser estrangeiro; fiz de novo outro concurso (2014) para o INPI, dessa vez, naturalizado, tomei posse em maio de 2017 como Pesquisador em Propriedade Industrial (Examinador de patentes) – servidor público federal. Conversaremos muito sobre isso aqui… Bom, o texto está ficando longo, a gente vai se conhecendo… Abraços!