O número de suicídios de policiais civis e militares no Brasil cresceu 55% de 2020 para 2021, com 101 vítimas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 150% entre 2019 e 2021, de seis para 15 casos. Para promover a saúde mental e valorizar a vida desses profissionais, o governo do Estado, o Ministério Público do Trabalho/RJ e o IPPES (Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio), vão iniciar o Programa “Segurança QPrevine”. O lançamento se deu na terça-feira (28), no 1º Encontro sobre Saúde Mental e Autocuidado na Segurança Pública, na Cidade da Polícia.
O IPPES implementará um programa com pesquisa de diagnóstico e formação na prevenção e posvenção de suicídio para agentes da Polícia Civil, Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) e Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), que firmaram uma cooperação técnica com o MPT/RJ, patrocinador da iniciativa. O Segurança QPrevine, vai atuar em três eixos: pesquisa e diagnóstico; construção de boletins baseados em levantamento de dados (com notificação de suicídios, tentativas de suicídio e homicídios seguidos de suicídios); treinamento, formação e apoio psicoterapêutico aos profissionais.
Haverá oficinas de autocuidado e de gestão humana para gestores, agentes internos e operacionais, destacando a importância da saúde mental na segurança pública, além de rodas de conversa com multiplicadores de prevenção ao suicídio. O objetivo final é que as instituições, com mentoria do IPPES, criem ações próprias de prevenção ao suicídio. Será oferecido apoio psicoterapêutico pela PUC-Rio e psiquiátrico pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), de forma on-line. O Hospital São Francisco de Assis receberá internações de pacientes em situações críticas.
Pesquisa do Grupo de Estudo, Pesquisa e Prevenção ao Suicídio (Gepesp), vinculado ao Laboratório de Análise da Violência da Uerj, com 18.007 PMs, em 2014, mostrou que 3,6% já haviam tentado suicídio e outros 18% pensado em suicídio. Dos que tentaram, 88% relataram ter perdido um colega por suicídio. A arma de fogo é o meio mais usado.
“O Segurança QPrevine é uma conquista coletiva, a oportunidade de construirmos juntos uma nova linguagem na segurança pública: uma cultura de cuidado e respeito a esse profissional que arrisca a vida em nome da sociedade. O programa vai fornecer conhecimento e dar apoio psicoterapêutico ao agente”, explica a presidente do IPPES, Dayse Miranda, socióloga e doutora em Ciência Política.
“É como realizar um sonho: ver instituições de segurança pública integradas e participando efetivamente do segmento que envolve a saúde mental e a qualidade de vida dos agentes de segurança pública. É uma oportunidade para sensibilizarmos e habilitarmos o ambiente organizacional a receber as ações do Segurança QPrevine, que tem compromisso com a prevenção do adoecimento mental e com o autocuidado”, disse a coordenadora-geral do SegurançaQPrevine, Meire Cristine.
Para as procuradoras do Ministério Público do Trabalho Samira Shaat e Cynthia Lopes, o programa vai integrar o MPT com as forças de Segurança “em prol do reconhecimento da importância e da implementação de medidas voltadas ao cuidado da saúde mental dos agentes de segurança pública, visando à melhoria da qualidade de vida e valorização destes profissionais”.
O evento contou com a presença do procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ), Fabio Villela; do secretário da Polícia Civil, Fernando Albuquerque; e da coordenadora-geral do SegurançaQPrevine, inspetora de Polícia Civil Meire Cristine, entre outras autoridades.
IPPES
O IPPES é uma organização sem fins lucrativos especializada na prevenção ao suicídio. Tem como missão produzir conhecimento, formular e executar estratégias e ações de prevenção ao suicídio no Brasil. Tem programas de capacitação em “Suicidologia, Prevenção e Posvenção” e “Violência e Políticas Públicas” e divulga boletins anuais sobre suícidio e tentativa de agentes de segurança. Já formou mais de 400 profissionais de segurança pública do Rio de Janeiro, Distrito Federal, Espírito Santo, Bahia, Marinha do Brasil e Polícia Federal e recebeu apoio da ONU (Organização das Nações Unidas). O livro “Por Que Policiais Se Matam”, coordenado pela presidente Dayse Miranda, contribuiu para a criação da lei estadual 8.591, de 2019, que institui o Programa de Prevenção de Violências Autoprovocadas ou Autoinfligidas.