Construído no sec. XIX, Palácio do Catete (Museu da República) recebe, no dia 5 de março, domingo, a soprano Daniella Carvalho, o violinista Daniel Guedes e a pianista Priscila Bomfim em concerto com comentários do museólogo Mário de Souza Chagas. Festival une música e arquitetura e leva grandes nomes da música de concerto a construções emblemáticas do país
Em sua segunda edição, o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura convida o público carioca a viver mais uma experiência imersiva que une música e arquitetura, agora em outro importante monumento arquitetônico da cidade. Após uma estreia estonteante em dezembro último no Palácio Petit Trianon, na Academia Brasileira de Letras – em janeiro, o festival aportou em Belém, no Palácio Lauro Sodré, Museu do Estado do Pará (MEP) – o projeto, desta vez, irá celebrar os 458 da fundação da cidade do Rio (comemorados no dia 1 de março), reunindo na semana do seu aniversário, dia 5 de março, domingo, no Palácio do Catete (Museu da República), a soprano Daniella Carvalho, o violinista Daniel Guedes e a pianista Priscila Bomfim. Além do Rio de Janeiro e Belém, o FIMA estará presente também nos estados do Maranhão e Minas Gerais com historiadores da arte e arquitetos abrindo caminhos para que músicos brasileiros consagrados possam apresentar obras musicais que dialoguem com a arquitetura, a arte decorativa e a história destes icônicos edifícios, que representam alguns dos mais importantes patrimônios materiais do nosso país. No dia 18 de março, celebrando os 180 anos de Petrópolis e os 80 anos do Museu Imperial, o Duo Santoro se apresentará no Palácio Imperial. Com patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, todas as apresentações do FIMA têm entrada gratuita.
No dia 5 de março, os cariocas terão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre este icônico palácio, inicialmente projetado para abrigar um dos homens mais ricos do Brasil, Antônio Clemente Pinto. Fazendeiro, comerciante de café, banqueiro e industrial, se tornou Barão de Nova Friburgo em 1854 e quatro anos depois iniciou a construção do Palácio Nova Friburgo, futuro Palácio do Catete, com projeto do arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneld. Para guiar o público nesta jornada por este edifício – que de 1896 até 1960 foi a sede da Presidência da República do Brasil – estará presente Mário de Souza Chagas, museólogo e diretor do Museu da República.
Programa
O concerto começa celebrando o jardim realizado, no tempo do Barão, pelo paisagista francês Auguste Marie François Glaziou e remodelado para a sua ocupação pela sede do Poder Executivo Nacional por seu discípulo Paul Villon. Os movimentos Le jet d’eau e Recueillement da obra “Cinco Poemas de Baudelaire”, de Claude Debussy, e As Ninféias do ciclo “Os Olhos de quem vê”, de Pablo Castellar, irão dialogar com o jardim, seus pequenos lagos e o belo chafariz que representa o Nascimento de Vênus realizado na França pela Fundição Val D´Osne.
Em seguida, o programa chega a Heitor Villa-Lobos, compositor que durante o regime de Getúlio Vargas implementou um programa de educação musical nas escolas. Neste momento, é lembrado o complexo contexto sociocultural brasileiro do início do século XX, no qual a ideia de modernidade e a invenção da nação se misturavam. Na obra “Suite Para Canto e Violino”, expressa-se a personalidade musical singular do compositor que ligado às experimentações traz uma visão musical particular do Brasil. No terceiro e último movimento, Sertaneja, as onomatopeias aparecem como recursos musicais para reforçar o ambiente rural/tradicional, seja com o som da rabeca, de danças sertanejas, do galope da boiada ou de tiros de espingarda. Tiros que talvez ecoem o disparo desferido por Getúlio contra o próprio peito.
Para celebrar o Salão Mourisco, com sua decoração inspirada na arte islâmica, o trio irá apresentar Sheherazade, de Rimsky-Korsakov, que conta a história da lendária rainha persa que fascinou e ganhou o eterno amor do Rei Shariar ao narrar fantásticas histórias por mil e uma noites. Já no Salão de Banquetes, também utilizado por Getúlio Vargas como um espaço para suas reuniões ministeriais, destacam-se no teto estuques com frutos e nos arcos pinturas de naturezas mortas, do italiano Domenichino. Momento em que o programa busca refletir a beleza vegetal e o estilo barroco através da ária Ombra mai fu (Nunca houve uma sombra), da ópera Xerxes.
Para dialogar com cenas mitológicas que encontramos no primeiro andar do palácio e que copiam os afrescos pintados pelo renascentista italiano Rafael (1483-1520) na Villa Farnesina e a cópia em metal da escultura Afrodite de Cápua, que se encontra no Museu Nacional de Nápoles, segue o lamento de Dido, When I am laid in earth (Quando eu descer à terra), de Dido e Enéias, ópera de Henry Purcell que retrata o amor da rainha de Cartago, Dido, pelo herói troiano Eneias. Na Ilíada de Homero, Eneias é o guerreiro favorito de Apolo, o que nos permite também com essa música fazer uma alusão à Troia, representada nas cenas da vida de Apolo que encontramos no friso do Salão Nobre.
Subindo para o segundo andar, observam-se os vitrais de sua galeria que representam musas e outras figuras mitológicas, trazendo a ária cantada pela Ninfa aquática “Rusalka”, que dá nome a ópera Antonín Dvořak, intitulada A Lua. Em seguida, uma celebração ao Salão Veneziano, local onde se realizavam as apresentações musicais deste palácio. Seu nome decorre do estilo do mobiliário, com móveis pesados e ricamente decorados. Foi neste espaço que ocorreu o polêmico sarau com músicas da compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga, promovido pela primeira-dama do presidente Hermes da Fonseca, D. Nair de Teffé. Nele foi apresentada a obra Corta-Jaca, que escandalizou a sociedade da época.
O concerto chega ao fim com Ich bin der Welt abhanden gekommen, de Gustav Mahler, novamente lembrando Getúlio Vargas com esta obra que evoca a paz alcançada pelo fim de uma vida em meio à turbulência do mundo. Da mesma forma vemos isso refletido nas palavras perpetuadas ao fim da carta testamento Getúlio, “…Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.” Na música vemos os aspectos mais importantes da existência do autor: seu céu, sua vida e sua canção. Um isolamento e uma desolação que se transformam em paixão quando o poeta se declara morto para o mundo.
PROGRAMA
Daniela Carvalho, soprano
Daniel Guedes, violino
Priscila Bonfim, piano
Palestrante : Mário de Souza Chagas
CLAUDE DEBUSSY
Cinco Poemas de Baudelaire
III. O repuxo (Le jet d’eau),
IV. Recolhimento (Recueillement)
Composição: 1887-89
Duração: 10 minutos
PABLO CASTELLAR
Nos Olhos de Quem vê
I . As Ninfeias
HEITOR VILLA-LOBOS
Suite para Canto e Violino
I.A Menina e a Canção
II.Quero ser Alegre
III.Sertaneja
Composição:1923
Duração:12 minutos
RIMSKY-KORSAKOV
Sherezade (Arr. Fritz Kreisler)
Composição:1923
Duração: 6 minutos
ANTONÍN DVOŘÁK
Da ópera Rusalka
Ária “A Lua”
Composição: 1900
Duração: 6 minutos
GEORGE FRIEDRICH HANDEL
Da ópera Xerxes
Ária “Ombra mai fu” (Nunca houve uma sombra)
Composição: 1738
Duração: 3 minutos
HENRY PURCELL
Da ópera Dido e Enéas
Ária “Lamento da Dido” When I am laid in earth (“Quando eu descer à terra”)
Composição: 1689
Duração: 4 minutos
CHIQUINHA GONZAGA
Corta-Jaca
Composição: 1897
Duração: 6 minutos
GUSTAV MAHLER
Ich bin der Welt abhanden gekommen
Composição: 1821
Duração: 6 minutos
SERVIÇO
DIA: 05/03/2023 (domingo)
LOCAL: Museu da República – Palácio do Catete
Rua do Catete, 153, Catete – Rio de Janeiro
HORÁRIO: 16h
Entrada Franca
Classificação Livre
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