Na última quinta-feira (13), o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, participou do seminário Agendas para o Brasil – Caminhos da renovação, promovido pela Insight Comunicação, na ABL, para celebrar os 25 anos da revista Insight Inteligência. Almeida destacou que o Brasil tem sociedade, cultura e institucionalidade muito avessas à participação popular nos processos decisórios. “O Brasil é um pouquinho de democracia cercado de golpes por todos os lados”, afirmou o ministro. Ele elencou a democracia, a dependência econômica e o racismo como tendências estruturais que se manifestam de formas diferentes ao longo da trajetória do Brasil e são totalmente influenciadas pela conjuntura global.
Para Almeida, não há solução para as grandes questões nacionais que não passem pela dimensão dos processos de transformação que o mundo atravessa hoje. Segundo ele, a possibilidade de construir consensos dependerá de uma ampla rede de proteção social, de solidariedade e de capacidade e ação política voltada às pessoas que não podem se cuidar sozinhas. “Se não formos capazes de lidar com esses desafios, não conseguiremos convergir dentro dos nossos conflitos e avançar”, ressaltou o ministro.
Na visão da escritora e membro da Academia Brasileira de Letras, Rosiska Darcy de Oliveira, a sociedade brasileira não é democrática, “Ela traz consigo marcas até então indeléveis de um passado doloroso e acabou por criar duas maiorias minorizadas, a mulher e os negros”. Rosiska disse que é prioridade para a agenda do futuro do Brasil se reorganizar para acolher em igualdade de condições em especial as mulheres, que têm realidades diferentes. Para ela, responder a esse desafio implica repensar a estrutura e as contas do Estado, a atuação das empresas e a própria organização das famílias. Em relação a população negra, é preciso desfazer a estrutura invisível, herança de uma escravização multissecular. que não inclui a população negra como detentora de direitos.
De acordo com o ex-ministro do STF Nelson Jobim, palestrante do seminário, nos últimos dez anos, o Brasil vem experimentando um período de “disfuncionalidade”. Além de uma crise de representação, ele ressalta que há um movimento lateral de grande violência dentro da política, com o estímulo ao dissenso sem o compromisso de construir consenso. “Ao que parece, o amor não une ninguém. O ódio, sim. Ele produz um dissenso coalizante na internet que gera uma polarização radical”, afirmou. Jobim fez ainda uma crítica relacionada ao esvaziamento do debate parlamentar. “Não existe mais diálogo, confronto de ideias. O que existe hoje no Parlamento é uma demonstração para terceiros, na internet, da sua posição porque essa é a visibilidade que dá voto. O que se busca é produzir conflito que dá manchete de jornal”.
O jornalista Pedro Doria, colunista do Globo e editor do Canal Meio, também ressaltou o dissenso como uma categoria contemporânea. Doria destacou como os algoritmos interferem na liberdade de expressão e na liberdade de imprensa. “A gente tem uma máquina (internet) que substituiu a imprensa na sociedade, trazendo os recortes dos debates públicos com o incentivo de criar o dissenso, de separar todo mundo em grupos de radicais, para evitar que conversas e consenso sejam criados”, disse. Doria acrescentou qual é o papel da sociedade nesse cenário, “Nosso desafio é esse: a tecnologia faz o que os humanos decidem que a tecnologia deve fazer. No momento a gente substituiu uma estrutura de imprensa por uma máquina de produção de dissenso. A longo prazo uma democracia não se sustenta com isso”, finalizou.
O ex-presidente da Fiocruz e Coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, Paulo Gadelha, destacou a relevância do SUS e a importância de se avançar frente aos retrocessos dos últimos anos no campo da saúde pública. Enfatizou ainda a importância de recuperar o protagonismo do país e seu papel na agenda climática. “Os dois temas para a agenda da saúde no Brasil, compreende o esforço para ganhar uma soberania sanitária e ao mesmo tempo trabalhar a relevância da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável como o marco fundamental para pensarmos uma agenda para o Brasil”, afirmou.
Para o economista Aloisio Araújo, professor da FGV EPGE e do IMPA, a desigualdade de renda está, em grande parte, na raiz dos conflitos da democracia e da polarização. “Equacionar a desigualdade de renda é fundamental para dar estabilidade política”, afirmou Araújo.
O editor da revista e cientista político Christian Lynch ressaltou a criação da Insight Inteligência e suas peculiaridades, “A revista desde nascedouro sempre buscou pelo não convencional”, explicou o editor, que acrescentou o empenho de fazer um produto único, “Essa busca leva um esforço enorme de criatividade, quanto do ponto de vista da forma quanto ao conteúdo. Todo design da revista é pensado e executado como se fosse uma obra de arte”, disse Lynch. O acadêmico Joaquim Falcão, representando a ABL, abriu o evento ressaltando a qualidade do conteúdo da revista e a relevância para aqueles que pensam nos caminhos para o país, “O Brasil está cheio de diagnósticos. Mas o Brasil precisa de soluções”, comentou o acadêmico.