Por Aisha Raquel Ali
Dr. Murilo Dorio é reumatologista na Imuno Brasil e comentou ao Jornal DR1 sobre a artrose, doença que tem acometido o quadril do Presidente Lula. Confira abaixo o que o Dr. Murilo tem a nos dizer sobre essa doença que acomete milhares de pessoas em todo o mundo.
Jornal DR1: O que é artrose?
Dr. Murilo: Artrose é o nome popular que damos a uma doença chamada osteoartrite, que é uma doença em que o paciente perde a cartilagem – capa de revestimento da articulação. Essa perda leva a uma sobrecarga e a um desgaste de toda articulação. Como consequência, o paciente sente dor durante sua mobilidade, como exemplo, andar, subir e descer escadas.
Jornal DR1: Quais são os sintomas da artrose no quadril?
Dr. Murilo: A artrose do quadril causa uma dor que em geral é sentida na região da virilha, ou na região anterior do quadril. Essa dor pode irradiar para as coxas, ou eventualmente até para os joelhos, causando perda de funcionalidade do paciente. Ou seja, ele tem dificuldade em todas atividades básicas que envolvem a mobilidade.
Jornal DR1: Quais são as causas da artrose no quadril?
Dr. Murilo: Não existe uma causa especifica definida, mas há sim um conjunto de fatores que pode predispor o aparecimento da enfermidade. Existe um componente genético, com a predisposição familiar, alterações de sobrecarga do peso, e a influência da idade avançada. Outros fatores importantes são as alterações da anatomia do quadril, como a alteração do contorno da cabeça do fêmur.
Jornal DR1: Como é feito o diagnóstico da artrose?
Dr. Murilo: O diagnóstico pode ser baseado nos sintomas em pacientes com mais de 50 anos que sentem dor que piora com o movimento, o que chamamos de dor mecânica, em uma articulação típica, como a do quadril. Exames podem ser solicitados para confirmação, como radiografia e ressonância magnética, porém, muitas vezes não são necessários.
Jornal DR1: Quais são os tratamentos disponíveis?
Dr. Murilo: O tratamento envolve a reabilitação física, com exercícios, por meio da fisioterapia, caminhadas, musculação, hidroginástica e natação. Como uma segunda modalidade, são utilizados tratamentos com anti-inflamatórios ou, em casos selecionados, alguns suplementos ou nutracêuticos para melhora dos sintomas. Já quando a resposta do paciente não é eficaz a estes tratamentos clínicos iniciais, pode-se indicar a cirurgia do quadril ou artroplastia total, que é a colocação de uma prótese.
Jornal DR1: Quais são os possíveis medicamentos utilizados no tratamento?
Dr. Murilo: O que mais gera resultados na prática são os anti-inflamatórios, como nimesulida, diclofenaco e cetoprofeno, por exemplo. Mas são medicamentos com limitação de uso na prática, pois, em sua maioria, os pacientes são idosos e podem ter eventos adversos como gastrite, problemas renais e hepáticos. Então, o seu uso deve ser sempre por períodos curtos. Suplementos e nutracêuticos podem ser utilizados em casos bem selecionados. Em pacientes com dor crônica, na espera da cirurgia, ou que não têm condições de usar os outros medicamentos, alguns opioides ou medicamentos para dor crônica, como a duloxetina, podem ser prescritos.
Jornal DR1: A cirurgia é um tratamento comum para a artrose no quadril?
Dr. Murilo: Sim. Muitos pacientes não respondem bem ao tratamento clínico com os exercícios e medicamentos. Nestes casos, a cirurgia de quadril com a colocação da prótese é bastante útil. A maioria dos pacientes que coloca a prótese melhora a dor e a mobilidade no dia a dia.
Jornal DR1: Como é realizada a cirurgia de artrose no quadril?
Dr. Murilo: A cirurgia da artrose do quadril é um procedimento em que a articulação é trocada por uma estrutura metálica para exercer a mesma função. Então, como é retirado todo revestimento que cobria a articulação e causava a dor, o alívio é comum. A cirurgia é realizada por um ortopedista especializado em quadril.
Jornal DR1: Quais são os possíveis riscos e complicações da cirurgia de artrose no quadril?
Dr. Murilo: Como a cirurgia é de médio porte, é preciso realizar uma avaliação da saúde do paciente, para verificar coração, pulmão, rins e todos os outros órgãos para evitar complicações relacionadas. Já os riscos da cirurgia em si são sangramento, que em geral é pequeno, e no pós-operatório, dor ou algum tipo de sangramento, bem como alguma complicação da própria prótese, como infecção no curto prazo.
Jornal DR1: Quanto tempo leva para se recuperar da cirurgia?
Dr. Murilo: Isso pode variar, pois depende da condição clínica do paciente para a reabilitação com fisioterapia, treino da marcha (que é o treino de mobilidade), retirada dos pontos, etc. Mas em geral leva de duas a quatro semanas até três meses.
Jornal DR1: Quais são as recomendações aos pacientes diagnosticados tal doença?
Dr. Murilo: É preciso educá-los sobre a enfermidade que é crônica, e com períodos de piora e melhora. Orientá-los a seguir uma dieta saudável, se possível acompanhada por um nutricionista, para ajudar na perda de peso. Estimular a prática de exercícios físicos, aeróbicos e de fortalecimento, pois essas atividades podem melhorar os sintomas. Também é essencial orientar os pacientes quanto ao uso de anti-inflamatórios e analgésicos simples, como exemplo dipirona e paracetamol, que podem ajudar, mas exigem cautela no período de uso. Em caso de não melhora, complicação ou muita limitação da qualidade de vida é preciso procurar um especialista de quadril para avaliar a necessidade de cirurgia.
Jornal DR1: A artrose no quadril pode ser prevenida?
Dr. Murilo: Para pacientes com alterações anatômicas da cabeça do fêmur ou da conformação do quadril, cirurgias de correção dessas alterações podem ajudar a prevenir a artrose. A combinação de exercícios e perda de peso ajuda a diminuir a sobrecarga.
Jornal DR1: Existe alguma restrição de atividades para os pacientes diagnosticados com tal doença?
Dr. Murilo: Pacientes com dor crônica devem evitar atividades que forcem o quadril como agachar, subir e descer escadas, carregar peso. As atividades que desencadeiam dor devem ser evitadas.
Jornal DR1: Quais são as perspectivas de longo prazo para os pacientes?
Dr. Murilo: Alguns pacientes têm quadros leves da doença, que não progridem ou pioram. Já em casos de pacientes com progressão e dano das articulações sem tratamento, pode haver dificuldade nas atividades diárias. Para aqueles que colocam a prótese, a resposta costuma ser boa, com melhora da dor e da mobilidade.
Jornal DR1: A perda de peso pode ajudar a aliviar os sintomas?
Dr. Murilo: Sim, recomendamos para todos os pacientes a perda de peso, no entanto essa estratégia não deve ser indicada isoladamente.
Jornal DR1: Quais são as opções de reabilitação após a cirurgia?
Dr. Murilo: Fisioterapia é muito importante na recuperação inicial, principalmente o treino de marcha e fortalecimento da musculatura. Exercícios para o equilíbrio e para ampliar o alongamento da articulação também são essenciais. Após a fase em que o paciente estabeleceu o equilíbrio e a força ele pode praticar outros exercícios como hidroterapia e hidroginástica.
Jornal DR1: Quais são os cuidados pós-operatórios necessários para a recuperação?
Dr. Murilo: Iniciar a fisioterapia ajuda no prognóstico, bem como avaliar a analgesia, pois pacientes que sentem muita dor podem ficar mais imobilizados. No pós-operatório existem medicamentos que podem ser utilizados para evitar trombose.