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Ars Gratia Artis: Sarau Cênico Literário: O Tempo e os Anjos: a obra de Mário Quintana

Poesia em cena; fantasmas, meninices, amores e rimas tecem a memória lírica dos hinos à vida e – em movimento tornado ato pela CIA Janela Azul – vapores de um som sem cor pousam nesta folha, não se entregam: ‘definir’ o sarau sobre Quintana, dirigido por Delson Antunes, na Casa de Leitura, é arte inatingível, como aquela a qual nos debruçamos, alegrando nossos caminhos pelas distâncias  inatingíveis das estrelas que cobiçamos.

O talento da Cia evidenciou uma característica, na apresentação, digna da Arte: fiéis aos seus métodos cênicos, explorando as peculiaridades de cada componente, suas presenças, músicas, tons de voz, suavidades e intensidades, nos olhares, nos silêncios, nos sorrisos que migram para a expressão de abandono e logo se voltam, esperançosos, para um ‘não-sei-onde’… fiéis mais do que nunca a si mesmos, direção e corpo cênico trouxeram em alma e ato a experiência autêntica de ler, viver, de agir Quintana. Quem se expressa sendo fiel a si mesmo, representando um outro e, nesta expressão, faz do outro ainda mais ele mesmo… eis algo belo.

A ironia, a esperança, a surpresa, o espanto dos epigramas de Quintana… maravilhas nunca faltaram ao mundo, aquilo que pergunta se a alma existe, o susto das velhas carolas se – ao morrerem – descobrirem que o Deus existe, mesmo… e os livros de poesia, a pornografia dos anjos… resta quem desvele tais maravilhas… Quintana escreve, o maestro Delson e seus virtuoses pegam, sentem, cheiram, vestem, respiram suas palavras, as tornam ação, corpo; sobe o pano, trazem o cheiro do vento, o ruído dos filmes de Far West, que nos acordam no melhor do sono… o humor, a melancolia, a leveza, o abandono, a esperança, a natureza na cultura e as mãos do escritor levadas pelas mãos de um anjo, pela imaginação, pela memória, por um ditado, um suspiro de um parente morto que comparece à primeira reunião familiar e se sente aliviado por saber que estão falando já de outras coisas. 

O sarau da CIA Janela Azul é ideia que a todos tocou e agradou, à sua forma. Já não é só mais de quem fez é de quem viu e mesmo é de quem a qualquer um pergunta o sentido de um texto, de um poema, de um gesto… a tal pergunta, diríamos: assistir é agir, a ação é também de quem recebe a palavra e a arte, do outro lado os tecelões do sonho, convidando-nos a todos, a cada um de nós, a acordar… para dentro.

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