Eu quis me levantar e lutar pela vida que me escapava, mas o medo era tão intenso que permaneci em silêncio, absorto, por horas a fio, até que uma voz proclamou do alto da montanha mais alta do mundo: levanta-te, fortaleça-te e caminha!
Então, compreendi que o meu destino era o mesmo de todos os seres iguais a mim, em carne, espírito e sangue. Do pó todos viemos e a ele retornaremos. Mas esta sabedoria só fez aumentar em mim os velhos temores que me acompanham desde a infância: levantar-me, desnudar-me de meu ego e caminhar… para onde?
Não houve qualquer explicação para meus temores e fui empurrado para o fatal encontro humano – grave e exasperado- em Beberibe, na grande cidade nordestina do Brasil.
Então de tardezinha, quando o sol estava prestes a se pôr, senti os olhos marejados e o coração aflito, ao perceber o deslumbrante espetáculo da vida, exibindo-se, majestoso, diante de mim.
Havia homens e mulheres, crianças e anciãos deambulando sem cessar pelas ruas desgastadas e quentes, fronteiriças à praia.
E eles falavam e falavam – poucos permaneciam em silêncio – e suas faces eram alegres como fruto derretendo na boca. E eu quis permanecer eternamente ali, perscrutando esta gente boa e faceira, porque sentia no fundo da alma que os compreendia assim como uma mãe compreende cada gesto de seu recém-nascido.
Mas eu sabia que precisava ainda caminhar e deixar o olhar terno para trás e me defrontar uma vez mais, com meu inconsciente nas sombras.
Então pedi avidamente, como um suspiro de alguém a morrer, a intercessão do eterno em meu destino. Sim, admito, eu quis que o eterno me beijasse o rosto devastado pela insegurança na arte de viver.
Não houve beijo algum, mas assomou-me no horizonte uma pequenina luz que trouxe consigo outra vez a voz que trovejava de cima.
E ela ordenou como um general em batalha: repara criatura, em nome de tua poesia andarilha, concedo-te o dom de sentir todos os perfumes do mundo.
Ah delícia das delícias! Do vento frio senti o aroma da vida nos casais enamorados, das águas cristalinas brotando das fontes e dos mares salgados singrando o meu coração pétreo, em Beberibe.
E, quando finalmente a viagem tremenda acabou, pude me reconciliar comigo mesmo, deitado solitário algures em dunas brancas no porto das dunas. Em Morro branco, depois Cumbuco e Praia do Mangue Seco, neste instante na Lagoa do Paraíso e mais à frente, iluminado, na Praia do Futuro.
A ti Ceará das amplitudes majestosas, dedico minha poesia andarilha.