Adaptação do livro de Ziraldo, espetáculo é uma viagem no tempo, em que passado, presente e futuro se encontram no palco
Adaptação do livro homônimo do escritor, cartunista, poeta e dramaturgo Ziraldo, o espetáculo musical infantil “O Planeta Lilás” estreia em 22 de julho no Futuros – Arte e Tecnologia, com classificação livre. O Planeta Lilás acompanha a aventura do Bichinho que, bem pequeninho, entra em uma nave espacial e sai de seu Planeta Lilás para conhecer e descobrir o universo. A peça tem patrocínio da Oi e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio cultural do Oi Futuro.
A obra, dedicada ao poeta Carlos Drummond de Andrade, é uma homenagem a Ziraldo, que fez 90 anos em outubro de 2022. O livro completa 45 anos em breve e terá uma edição comemorativa, lançada pela Editora Melhoramentos, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em setembro.
O Planeta Lilás é uma grande deferência à literatura nacional, tão censurada durante os “anos de chumbo” no Brasil. O musical pretende transpor os elementos da linguagem da literatura (letras, pontuações e palavras) para os elementos que compõem o teatro: a luz, o som, a pausa, o ritmo, a atriz.
“Do mesmo jeito que a história contada por Ziraldo no livro era metalinguística e falava (e exaltava) o próprio livro, aqui no espetáculo essa história vai percorrer e exaltar os elementos que surgem na transposição e adaptação da linguagem literária para a linguagem teatro-musical”, explica Mariana Kaufman, dramaturga e diretora do espetáculo.
“Eu acredito que, para além de fazer uma homenagem à literatura, Ziraldo, no livro, faz uma ode à própria poesia, à fantasia e à arte em geral. A ideia é que o Bichinho percorra a clássica ‘jornada do herói’ para se entender e se libertar, podendo ser quem quiser, buscando um mundo plural e diverso. No fim das contas, o livro é também uma ode à imaginação como potência”, acrescenta a diretora e idealizadora do espetáculo infantil.
O livro foi escrito em um cenário de ditadura militar, no ano de 1979, quando a literatura foi duramente afetada pelos Atos Institucionais, que censuraram direitos individuais e coletivos. O personagem, preso em um mundo de cerceamento de liberdades, busca se libertar e romper com as amarras de seu tempo e sua sociedade. “Para nosso espetáculo, adaptar essa história para o contexto contemporâneo nos parece mais pertinente do que nunca. Em um cenário de guinadas autoritárias no poder e constantes ataques à cultura e à arte, e ainda somado a isso, o contexto pandêmico de reclusão e isolamento, nosso personagem vem mostrar que ele não se conforma e que pode suscitar aos pequenos cidadãos que é possível transformar uma realidade opressora”, pontua Mariana.
Além disso, tanto o livro quanto a peça enfatizam o problema de uma sociedade homogeneizada, com ainda tão pouca diversidade e pluralidade. O Planeta Lilás, “que tinha apenas uma mesma cor”, se transforma ao longo da jornada para que finalmente o Bichinho possa percebê-lo de uma outra forma, como uma flor viva que contém em si toda a fantasia do mundo. “Eu entendo que, ao olhar novamente, agora de fora, o seu Planeta Lilás, é como se Bichinho percebesse que pode reinventá-lo. A partir disso, o planeta pode ser tudo o que ele quiser”, afirma a diretora.
Com estética minimalista adotada por Ziraldo em seu livro, a peça traz referências que se relacionam com o universo concreto e neoconcreto do Ballet Triádico da Bauhaus e o Ballet Neoconcreto de Lygia Pape. A referência de um ballet conceitual também é parte da construção de movimento da peça, em que o concreto vai pautar a movimentação dos corpos dos atores em cena.
Mariana revela ainda que pensou em trazer um carnavalesco para assinar figurino e cenário para que se pudesse construir uma estética em que os corpos dos atores não fossem apenas uma superfície. Para que pudessem se ajustar e servissem também de cenário, como acontece nos desfiles carnavalescos. “Como a peça é metalinguística, o cenário e figurino também se tornam personagens. Desde o início, me interessava que os corpos dos atores pudessem se tornar cenários, ou seja: figurino pode ser volume e cenário e os cenários são os próprios atores. O corpo não é só um corpo, pode ser uma forma”, explica.
Ela acrescenta ainda que o espetáculo termina com um bloco de carnaval. “Da mesma forma que pensei que o carnaval poderia ser o cume desse espetáculo, da ode à fantasia, do espetáculo da libertação, terminar no carnaval é quase como se o teatro saísse do seu espaço e fosse para a rua”, conclui Mariana.
A direção musical é assinada pela dupla de compositores Domenico Lancellotti e Bruno di Lullo, nomes reconhecidos e importantes da Música Popular Brasileira. Ao todo, serão oito músicas compostas por eles em parceria com a diretora especialmente para a peça. Todas estarão disponíveis no Spotify.
“Aqui no Futuros – Arte e Tecnologia, vemos o teatro infantil como uma importante ferramenta de aprendizados, descobertas e experimentação, e a cativante aventura de O Planeta Lilás se encaixa perfeitamente nessa proposta. Estamos muito felizes em receber esta adaptação da obra de um autor tão importante para a história da literatura nacional”, diz Felipe Assis, diretor artístico do Futuros – Arte e Tecnologia.
Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia
Inaugurado há 18 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia tem a Oi como fundadora e principal mantenedora. Em abril de 2023, sob a chancela do Oi Futuro, o equipamento cultural se abriu a novos parceiros: EY, Eletrobras Furnas e BMA Advogados são os primeiros patrocinadores anunciados pela instituição.
Com programação diversa que aposta na convergência entre arte contemporânea, ciência e tecnologia, Futuros recebe cerca de 100 mil visitantes por ano. O espaço abriga galerias de arte, um teatro multiuso, um bistrô e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, que detém um acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil. O Musehum promove experiências imersivas e interativas que convidam a refletir sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas.
As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Pierre et Gilles, David Lachapelle, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo, Arthur Omar, Marcos Chaves e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta, Aderbal Freire, João Fonseca e outros.
Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, incluindo Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.
SERVIÇO
Musical infantil O Planeta Lilás
Futuros – Arte e Tecnologia
Endereço: R. Dois de Dezembro, 63 – Flamengo, Rio de Janeiro
Estreia: 22 de julho, às 16h
Ingressos: R$40 | R$20 – www.sympla.com.br