No dia das crianças, além de alguns outros brinquedos, Thomás ganhou um livrinho de sua tia. Sem muitas figuras, o livro não agradou muito…
-Tia, eu detestei esse livro! Ele não tem figuras e eu não gosto de livros assim. Muito obrigado, mas eu não quero não. Pode levar com você.
Instalou-se um pequeno constrangimento, fui firme com ele, avisando sobre aquela indelicadeza; a tia quis agradá-lo, deu-lhe um presente. Mesmo que não gostasse, deveria agradecer, mas não havia necessidade de rejeitar seu presente daquela forma. Aquilo entristecia as pessoas – ninguém quer ser rejeitado, principalmente quando está esperando um agradecimento. Este dia foi o início desta lição.
Poucos dias depois, ainda como presente de dia das crianças, ganhou um pequeno helicóptero de plástico. A ladainha foi a mesma, reclamou, disse que aquele presente era muito ridículo, que ele não queria, que não gostou, etc… Desta vez, percebi a necessidade de ser mais duro – ele ainda não havia assimilado o ensinamento sobre como lidar com o outro neste tipo de situação – quando o outro quer nos agradar, mas nos desagrada.
Nessa época, Thomás ouvia todos os dias, às vezes cinco, seis, sete vezes ao dia, o disquinho do Áudio Livro do Pequeno Príncipe. Pois bem : a partir daquele dia em que ele recusou, da mesma forma que fez com sua tia, com o helicóptero, ficaria de castigo durante uma semana, sem ouvir o disco do Pequeno Príncipe e sem poder ganhar nenhum presente
– tudo o que ganhasse nesse período seria guardado para que só recebesse depois do castigo. Thomás ficou extremamente sentido, chorando no seu quarto, com um olhar perdido, enfiado debaixo dos lençóis. Embora a vontade de desfazer aquilo fosse grande, nesses momentos é preciso ter muita fibra e ir até o fim – não se deixar abater, porque o sofrimento pode e nos ensina muitas coisas.
Dois meses após o incidente acima mencionado – ele dentro d’uma caixa de papelão – chamou aquela sua tia para mostrar ‘uma surpresa’. Quando ela se aproximou, ele lhe deu alguns beijinhos no braço e na mão, acompanhados de um “titia, eu te amo” daqueles que derretem qualquer tia… O que veio a seguir foi mais interessante : depois da declaração de amor, veio um pedido de desculpas. Pelo que? Ela perguntou. Então ele respondeu :
– Titia, me desculpe por aquele presente inútil que você me deu no dia das crianças, tá bom?
Ele conseguiu, naquele momento, além de nos fazer rir muito, ser sincero e educado ao mesmo tempo. Tanto quanto uma criança pode ser, numa situação dessas!