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Praça Onze de Junho: de logradouro da Família Real a berço do samba

 

Conheça um pouco mais sobre essa praça praticamente engolida pelas reformas do Rio de Janeiro, mas que carrega a história do samba e da resistência negra na cidade

Hoje, quando se fala da Praça Onze no Rio de Janeiro, é comum relacionar a estação de metrô de mesmo nome, que também é mais próxima da Marquês de Sapucaí, porém, se trata de uma referência ao lugar original, a Praça Onze de Junho. Apesar de descaracterizada na atualidade, a região foi de fato uma praça, na qual teve bastante importância para a história da cidade.

Seu nome se deve a data 11 de Julho de 1865, que foi a Batalha Naval de Riachuelo, confronto que definiu a vitória brasileira na Guerra do Paraguai. Como uma praça propriamente dita, a Praça Onze de Junho existiu por 150 anos, até 1940 e era delimitada pelas ruas  de Santana (a leste), Marquês de Pombal (à oeste), Senador Euzébio (ao norte) e Visconde de Itaúna (ao sul).

Mas o nome original da região era Largo do Rocio Pequeno. Até o final do século XVIII, tal lugar era desabitado, pois suas terras eram inadequadas para lavouras e também para edificações, pois seu terreno é pantanoso. Foi somente com a chegada da Família Real que a região começou a receber atenção, a começar pelo Paço de São Cristovão, onde era residência da realeza.

Por ordem de Dom João VI, foi criada a Cidade Nova, indo do Campo de Santana até São Cristovão, com o objetivo de criar ruas e avenidas para o acesso do Palácio Real para o Centro da Cidade. As ruas eram retilíneas e havia extensos lotes, muito diferente da área central, congestionada de casas em lotes estreitos. Nesta mesma ocasião, o rei criou a praça onde começava o Mangue de São Diogo: o Largo do Rocio Pequeno.

Ainda assim, o lugar continuou deserto, sem receber nenhuma atenção relevante. Isso mudou no Segundo Reinado, com Dom Pedro II. Um chafariz em estilo neoclássico foi construído no largo, todavia, foi o Barão de Mauá que deu mais atenção para a área. Ao construir a Fábrica de Gás (no qual já falamos dela, na Edição nº 213!), viu a necessidade de canalizar o mangue, saneando o caminho até a Baía de Guanabara, ao mesmo tempo criando um sistema hidroviário ligando o subúrbio ao Centro. Em 1858, o Barão inaugurou a Estrada de Ferro Dom Pedro II, que cortava a Cidade Nova, ligando-a a vários subúrbios e ao interior da província.

Nesta mesma época, houve a Guerra do Paraguai, levando a nação um grande sentimento de nacionalismo. Foi daí que de Largo do Rocio Pequeno passou a se chamar Praça Onze, devido a vitória na Batalha do Riachuelo. Um pouco tempo depois, a escravidão foi abolida no Brasil e a praça recebeu os novos habitantes: os ex-escravos alforriados, que passaram a ocupar as ruas adjagentes a Praça Onze, em casebres precários, próximos aos morros. A praça também foi reduto da “diáspora baiana”, o êxodo de pessoas que seguem o Candomblé da Bahia, por perseguição religiosa. Devido a isso, a Praça Onze também ficou conhecida como Pequena África durante o século XX.

Entre os moradores da Pequena África, se destaca Tia Ciata, a precursora das famosas “tias baianas”. Casada com um funcionário público e mãe de 14 filhos, Tia Ciata fazia quitutes para vender na rua. Sua casa, na Rua Visconde de Itaúna, era um reduto onde se encontrava boa comida e onde os músicos de origem baiana faziam seus batuques junto aos lundu dos cariocas surgiu o samba. Na casa de Tia Ciata, surgiram os primeiros sambistas da história: Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, Sinhô, João da Baiana e Grande Otelo, ator e sambista, foram alguns destes.

Contudo, o samba e a prática do candomblé também foram alvos de perseguição policial no Rio de Janeiro. Para escapar das perseguições, os sambistas da época se uniram para formar a primeira “escola da samba”, uma associação recreativa que não tinha fins exatamente educacionais. Seu nome foi “Deixe Falar” e anos depois suas divisões resultaram em outras escolas de samba tradicionais, como Estácio de Sá, Mangueira e Portela. Em 1933, o prefeito Pedro Ernesto organizou o primeiro desfile das escolas de samba, cuja Mangueira foi a vencedora.

A Praça Onze de Junho também foi um reduto de judeus, devido a configuração de suas ruas, no qual permitia a construção de lojas e sinagogas. Destes comerciantes judeus, fugiu posteriormente a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, o SAARA.

Contudo, no ano de 1941, a Praça Onze de Junho foi consideravelmente reduzida, tendo quarteirões demolidos para a abertura da Avenida Presidente Vargas. Prédios históricos e marcos do samba e da história da resistência negra no Rio foram derrubados em prol da modernidade.  Em 1970, foi contruída a estação de Metrô Praça Onze e o busto de Zumbi dos Palmares é um dos marcos da luta contra a escravidão, tão marcante na antiga praça. No espaço reduzido, também se encontra o Terreirão do Samba.

A Praça Onde de Junho foi reduzida fisicamente, mas sua história não. Seu nome e importância estão eternizados no samba, na consciência negra carioca e nos desfiles de escolas de samba anuais.

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