Jornal DR1

MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: ATENÇÃO INTEGRAL AOS CARIOCAS

Médicos de Família são protagonistas em assistência e cuidado na cidade

O acesso e o respeito à individualidade de cada paciente de um território são a essência dos médicos de família e comunidade. Eles atuam nas clínicas da família e centros municipais de saúde, exercendo um trabalho que apresenta resultados positivos para além daqueles expostos nos consultórios médicos. Neste Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, celebrado em 5 de dezembro, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) reforça a importância desses profissionais, que, ao entrarem nas casas das famílias da comunidade, são capazes de vivenciar diversas fases e versões da vida de uma única pessoa. Servindo, assim, o cuidado integrado à saúde e, muitas vezes, um ombro amigo.

Esse é o retrato da história da médica de família e comunidade da Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza, Karine Piancastelli, que após conhecer a especialidade e estagiar na Clínica da Família Estácio de Sá, no Centro do Rio, enxergou sua profissão como uma ferramenta social e política. Para ela, o trabalho realizado nos territórios vulneráveis é uma oportunidade de crescer enquanto ser humano. Foi desse modo que Karine alcançou sua realização pessoal, depois de ser convidada para atuar como preceptora do Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Prefeitura do Rio de Janeiro. Dedicando o seu tempo e estudo aos problemas estruturais do território e, principalmente, ao combate à violência estrutural e o debate sobre questões de gênero, Karine atendeu, zelou e acolheu diversas moradoras da Rocinha, ao longo de quase três anos, através do grupo de mulheres que a médica protagoniza.

-A característica mais forte da medicina de família e comunidade é reunir elementos para compreensão integral de um agravo em saúde, nos quais é incluída a possibilidade de acompanhar o paciente de perto, conhecer seus familiares e vizinhos, explorar culturas e crenças e atuar em equipe por meio do cuidado sob a perspectiva de diferentes profissionais. Entendo que, quanto mais elementos há na construção de uma assistência, mais efetiva e coerente ela será. Minha especialidade me possibilitou conhecer indivíduos, vivências, histórias, famílias e seus lares. É certo que ser médico exige muito estudo, mas digo que tudo o que mais aprendi com a medicina de família e comunidade extrapola o que qualquer livro tente descrever – relata Karine Piancastelli.

Sendo uma voz ativa e bastante respeitada pelas moradoras participantes do projeto, a médica de família e comunidade conquistou o seu espaço não somente no grupo, mas, também, no coração de tantas mulheres que tiveram suas vozes silenciadas e enfrentaram as consequências de uma sociedade firmada por homens. E, assim, encontraram na doutora Karine o conforto e incentivo necessário para resgatar os seus sonhos, enfrentar vários desafios e assumir o controle de suas próprias narrativas. Esse foi o caso da senhora Lindacy Menezes, uma nordestina de 66 anos, que viu em Karine a oportunidade de compartilhar seus traumas e medos, frutos de abusos sofridos ainda na infância, no Recife.

-Alguns momentos que vivi com a doutora Karine eu levarei sempre comigo, como por exemplo, dividir os abusos que sofri durante a minha infância. O apoio dela foi essencial, pois sempre que falo sobre o assunto em grupo, tudo o que sou capaz de sentir é tristeza, e ela e a literatura fizeram com que eu pudesse me libertar de todos esses fantasmas. O trabalho da doutora Karine e todos os médicos da Clínica da Família Maria do Socorro é essencial para aqueles que estão ao meu redor, eu vejo isso. A comunidade enxerga o benefício do trabalho deles em todas esferas -, afirma Lindacy

Para Lindacy, a doutora Karine representa coragem e renovação em sua caminhada enquanto mulher e, atualmente, escritora. As palavras de carinho se dão pelo forte apoio da médica e amiga no lançamento do seu primeiro livro, chamado ‘’Destino desviado’’. Lindacy, que chegou ao Rio de Janeiro com dificuldades na leitura e escrita, se alfabetizou na cidade e abriu inúmeras portas que pareciam fechadas, ressignificando o seu passado e trazendo esperança para o futuro, com todo o apoio da médica de família e comunidade: – O momento mais marcante da minha relação com a Lindacy foi quando fiz o convite para que ela participasse conosco de um congresso médico, em que faríamos uma apresentação sobre o grupo de mulheres. Ela não hesitou e fez do convite uma oportunidade de lançar um de seus livros na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, em agosto de 2022 -, diz a médica.

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