O autor piauiense é reconhecido pela luta pela terra e a promoção da cosmovisão de povos contracolonizadores
Neste domingo (3), morreu o filósofo, professor e líder quilombola Antônio Bispo dos Santos, mais conhecido como Nêgo Bispo, uma das principais referências da luta quilombola no Brasil. A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (Conaq) confirmou a morte do pensador, que faleceu após uma parada cardíaca.
Nascido em 10 de dezembro de 1959, no vale do rio Berlengas, Piauí, Antônio Bispo dos Santos integrava o quilombo Saco-Curtume, município de São João do Piauí, sendo o primeiro membro da sua família a ser alfabetizado. Nêgo Bispo, dessa forma, detinha atuação de destaque como liderança quilombola e pensador.
Preferindo ser chamado de “relator de saberes”, o líder é autor de livros ligados a questões afro-quilombola e anticolonial, em que analisa as desigualdades do país a partir da experiência e concepções das comunidades quilombolas e dos movimentos sociais de luta pela terra.
Entre as obras dele, estão “Colonização, Quilombos: modos e significações”, de 2015 e “A Terra dá, a Terra quer”, de 2023.
Ao longo de sua formação como escritor, traduziu a sabedoria local em textos, além de realizar a mediação com autoridades da região. Sua atuação foi caracterizada pela defesa da terra e pela promoção da cosmovisão de comunidades contracolonizadoras.
O intelectual recebeu destaque também na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq/PI), na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e em movimentos sociais piauienses.
A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco prestou condolências pela perda. “Nego Bispo fez a passagem e deixou aqui um legado enorme para o pensamento negro brasileiro. Um abraço a toda sua família e amigos”, publicou no X (antigo Twitter).
A CONAQ reconheceu Nêgo Bispo como uma voz única e significativa no cenário da literatura e do pensamento quilombola. “Sua contribuição inestimável para a compreensão e preservação da cultura e identidade quilombola será lembrada e reverenciada por gerações”, ressaltou a organização”, disse em nota.
Por Gabriel Cézar