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Fantasmas do Rio Antigo: a Fábrica Elixir Nogueira

Prédio possuía estrutura ousada e figuras fantásticas esculpidas na fachada que dava para rua, fascinando e assustando os cariocas na primeira metade do Século XX

O Rio de Janeiro possui vários prédios pitorescos e históricos. Alguns, infelizmente, não estão bem conservados como deveriam estar. Todavia, mais triste ainda, são os prédios que foram abaixo apenas para dar lugar um prédio com arquitetura moderna e funcional, colocando a abaixo toda sua história e importância. Este é o caso do antigo Edifício Elixir Nogueira.

Projetado pelo arquiteto italiano Antonio Virzi, o edifício foi inaugurado em 1916, já chamando a atenção: em estilo Art Nouveau, seus dois primeiros andares tinham uma forma cilíndrica, que suavemente transitava para formas retangulares nos demais andares. Sua construção foi ousada e até tida perigosa para a época, segundo um relatório escrito por técnicos da prefeitura da época em 1915 – um ano antes da conclusão do projeto, pois a estrutura era um misto de concreto armado com estrutura metálica.

Como se não bastasse a ousada estrutura do edifício, ainda tinha sua fachada: adornada com conjuntos escultóricos que ficavam na altura da rua, a criação de Virzi exibia figuras de ninfas, gárgulas e outras feras alegóricas. Todas as esculturas foram pintadas em um tom mais claro do que as paredes do edifício e eram montadas de uma maneira que pareciam “saltar” sobre os transeuntes na rua. Por causa disso, o prédio tanto fascinava quanto assustava quem passava em frente a ele. 

No lugar, como o próprio nome diz, funcionava a fábrica do Elixir Nogueira, um espécie de xarope considerado “milagroso” na época. Criado pelo farmacêutico químico João da Silva Silveira, o composto levava salsa, caroba, guaiaco e nogueira, ingrediente que deu o nome ao elixir, que foi aprovado pela Junta de Hygiene do Rio de Janeiro, entidade que era como a Anvisa de antigamente. 

Com a alcunha de “O Grande Depurativo do Sangue”, o composto tinha a fama de curar a sífilis e junto a sua fábrica extravagante e os anúncios que traziam testemunhos de pessoas que usavam o composto e garantiam que estar curadas de suas enfermidades, o Elixir Nogueira era bem famoso na primeira metade do Século XX no Rio de Janeiro.

O Edifício Elixir Nogueira era uma verdadeira joia arquitetônica na cidade, tanto, que foi tombada pelo antigo DPHA-GB em 1968. Porém, inexplicavelmente, o prédio teve seu tombamento retirado e em 1970 foi demolido. Lendas urbanas dizem que a responsável pela destruição do Edifício Elixir Nogueira foi a Igreja Católica, que não via o prédio e seu criador Virzir com bons olhos e que suas construções eram satânicas. Verdade ou não, não apenas a Fábrica do Elixir Nogueira teve um triste fim, como também outras construções feitas por Virzir na cidade.

A demolição do fantástico prédio foi acompanhada com tristeza pelos cariocas da época. Carlos Drummond de Andrade, indignado com sua demolição, escreveu um texto intitulado “Adeus, Elixir Nogueira” e um dos seus últimos parágrafos dizia: “O progresso é às vezes uma espécie de sífilis, que corrói e mata”.

Hoje, no endereço Rua da Glória, na altura do nº 192, funciona um prédio normal, que mistura parte residencial com comercial em seu térreo. Apenas fotos antigas e também propagandas do milagroso elixir comprovam a existência deste belo e injustiçado edifício.

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