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Serra: Revolução Praieira – uma disputa política e um problema social

Em duas edições falaremos um pouco da história da Revolução Praieira, iniciando nesta edição (235), nossa história estará completa na semana que vem com a edição 236.

O período regencial compreendido entre a abdicação de D. Pedro I e a maioridade de D. Pedro II, foi marcado por revoltas e disputas em todo o Império, atingindo algumas importantes províncias de norte a sul da recente nação. Durante o decênio do período regencial (1831-1840) as revoltas explodiram no país, por diversas causas. Assim, não é possível pensar nessas revoltas de forma homogênea, atribuindo apenas a uma única causa, uma mesma motivação, embora, a perda de uma ideia de legitimidade (existente enquanto D. Pedro I esteve à frente do trono) possa ser considerada relevante. A desestabilização do Império levou, também, a disputas entre as elites provinciais.

 A Revolução Praieira, igualmente conhecida sobre o nome de Rebelião da Praia, foi a última rebelião provincial que  se desencadeou durante o período monárquico (1848-1849). Aconteceu no segundo reinado, em um momento em que a política brasileira acomodava-se com a forma de governar do novo imperador. Um  movimento ocorrido no Estado de Pernambuco que , historicamente, era considerado um  dos lugares de maior agitação política e social do Brasil. Uma revolta influenciada pelas revoluções que se desenrolavam na Europa e que foi  causada, em parte, pelos conflitos não resolvidos durante o período regencial e pela resistência local à consolidação do Império Brasileiro que havia sido proclamado em 1822. Um movimento dirigido por elementos radicais do Partido Liberal de Pernambuco contra os Conservadores do poder.

O País passava por grandes transformações com o enfraquecimento do tráfico negreiro e a dificuldade de se obter trabalhadores escravizados. Uma situação que gerava certa tensão nas elites pernambucanas. Além disso, Pernambuco enfrentava um cenário econômico muito ruim, especialmente, porque a atividade de maior importância da região (a produção de açúcar) estava em decadência, causando, com isso, falta de alimentos e desemprego. Uma situação explosiva que ficava completa com o cenário que o país vivia e que em Pernambuco foi reproduzido de maneira mais intensa. As disputas políticas eram uma realidade, liberais e conservadores faziam de tudo para continuarem no poder, utilizando-se, muitas das vezes, da violência. Disputa que ganhou força com o surgimento do Partido Praieiro.

Em Pernambuco, os atritos tinham, também, suas origens nas eternas rivalidades entre grupos regionais que lutavam pelo poder e na agitação decorrente dos desencontros entre os interesses locais e as decisões do Poder Central, sempre, prejudiciais à província. Tais perturbações eram quase sempre, engrossadas pelas massas populares, das quais se serviam as elites para atingirem seus ambiciosos propósitos.

Essas massas, por sua vez, trouxeram à baila suas insatisfações, derivando daí um verdadeiro turbilhão que arrastou federalistas, socialistas, republicanos, nativistas e os setores populares. Portanto, a Revolução revestiu-se de uma feição nitidamente popular com suas justificativas na então repugnante estrutura social pernambucana, onde o poder era monopolizado pela família Cavalcanti. Grupo familiar que manipulava o processo político partidário e se firmava através de inúmeras investidas inescrupulosas, com hábito de falsificar moedas, contrabandear e roubar escravos e a contratação de crimes de homicídios. Tanto os Cavalcanti como os Rego Barros (outra família aristocrática e poderosa) controlavam o Partido Liberal e o Partido Conservador, no âmbito da província, além de explorar e oprimir as populações rurais sob os seus domínios.A disputa entre partidos adquiriu novos contornos, quando eles decidiram recorre à imprensa. Cada qual cria um jornal no qual defendem suas narrativas e ponto de vista, além, de se atacarem entre si. Os conservadores, considerados “ladrões sorrateiros dos cofres públicos ” e chamados “guaribus” (uma espécie de rato ) criaram o Diário de Pernambuco, enquanto os Liberais, chamados Praieiros ( pois a sede do jornal ficava na Rua da Praia, em Recife) criaram o Jornal Diário Novo. Um duelo de narrativas no campo da imprensa que durou até 1844. No Ano de 1845, como reflexo das reuniões e das publicações dos praieiros foi nomeado Antônio Pinto Chinchorro, aliado dos liberais, para presidente da província (cargo semelhante ao governador, hoje). Continua…

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