Só quem trabalha com o público sabe como às vezes é difícil lidar com certas situações.
E com a gente da serenata não é diferente, nesses 24 anos de existência muita coisa bacana e estranha já aconteceu como naquela vez em que fomos chamados para fazer uma serenata lá onde o Judas perdeu as botas.
Sim, precisamos rodar muito ao mesmo tempo em que a habilidade no volante era um quesito importante para esta viagem.
Era inverno, e naquele ano a estação estava rigorosa mesmo, não estava frio, estava congelando.
Bem, fomos chamados por Amanda, uma garota muito alegre que havia acabado de completar a maioridade e que também tinha descoberto que seria mãe.
Ela estava eufórica, e queria contar para seu marido o Josué em grande estilo. Daí ela teve uma ideia. Já que o marido completaria 26 anos naquela semana, porque não, além de homenageá-lo contar também a novidade?
Então a jovem decidiu contratar um trio, combinou tudo com Fredi e em uma noite gelada de inverno o trio partiu para o cafundó… opa, para a casa de Amanda.
Foi fácil achar o local, pois a festa se estendia até a rua. Quando as crianças viram aquelas três figuras vestidas como antigamente ficaram loucas então para não perder o impacto da surpresa nossa trupe já invadiu a festa cantando.
E deu certo, a mulherada ficou deslumbrada ao testemunhar tão de perto uma serenata.
Mas e o homenageado, gente?
Ele olhava para os músicos com uma cara de poucos amigos, dava uns resmungos, mas o pior foi quando dissemos que seria papai.
Gente esse homem fez uma cara de doido varrido, olhou para a pobre da Amanda e na frente de todo mundo disse:
Precisava de tudo isso só pra me dizer que está prenha? Que palhaçada mulher, agora só falta dizer que eu vou ter de pagar por todo esse circo que você armou também!!
A pobrezinha da Amanda caiu no choro, e o Josué parecendo um galo de briga com o peito todo estufado foi cercado pelas senhorinhas. Era bolsada daqui, chinelada de lá, beliscões por todos os lados, o machão saiu todo roxo de dentro da casa.
É gente, um tamanco saiu voando pertinho dos músicos que só assistiam ao bafafá sem nada poder fazer. Eu digo e repito: Vida de seresteiro não é fácil não.
