Quando a Disney comprou a Fox, um dos receios do público era a descaracterização de Deadpool; um filme para maiores de 18, com alta violência gráfica e piadas supostamente inadequadas. Mas com o lançamento de Deadpool e Wolverine, vimos que Ryan Reynolds teve o máximo de liberdade para fazer aquilo que ele deseja e o que o filme pede. Sim, toda a sátira escatológica está de volta sem medo de represálias.
E caso pense que o anti-heroi só serve apenas para tirar sarro, saiba que estamos diante da produção mais madura dessa trilogia. A carga dramática existente carrega o trajeto do início ao fim. Ambos os protagonistas lidam com a rejeição e/ou o sentimento de ser irrelevante. Esse é o argumento que pauta o filme, saindo até mesmo do campo das ideias para o mundo material – O Vazio. Valendo ressaltar que a entrega da atuação dramática é acima do digno para ambos os atores.
A obra é sobre o descarte, seja qual âmbito for, mas se usarmos o cinema como base, é facilmente notável que Ryan entende o quão frívolo às vezes a indústria consegue ser, principalmente a de herois. São tantos filmes e personagens enlatados que rapidamente são descartados. E por que durante o filme o nosso anti-heroi é cunhado como Jesus da Marvel? Porque ele vai até ao lixão da Marvel e resgata personagens há muito esquecidos. Ele poderia ser o ponto de salvação do que vem pela frente. Nem tudo o que um dia foi descartado quer dizer que perdera a utilidade. Talvez seja uma visão de Ryan, que esteja na hora da Disney olhar para si e se resgatar. Ainda mais porque a atual fase é considerada a pior de sua história.
O amadurecimento da obra também é sobre o tom do filme, nessa mescla de ação, piadas e drama, e o excelente uso de câmera enquanto vemos belíssimas cenas coreografadas. Acredito ser, dentro da Marvel, o melhor trabalho quanto à construção de cenas de ação. Do uso dos atores, enquadramento e edição.
Ainda assim, o filme tem sua carência: a vilã do filme; ela cumpre o seu propósito para a trama, porém fica apenas nisso. O seu potencial não foi aproveitado, tornando-a descartável. O roteiro poderia ter aproveitado o tema já mencionado e feito alguma sátira, para que a sua presença fizesse ainda mais sentido. Mas não. Cassandra será esquecida no próximo lançamento da Marvel, caindo de vez no Vazio – o lixão do estúdio.
E assim é Deadpool e Wolverine. Um filme que entende o que o público quer, principalmente os que conhecem os quadrinhos originais. Que sabe viver das referências sem ser refém. Que entrega um belo subtexto sobre Hollywood e seus filmes descartáveis, assim como a importância dos irrelevantes. Que talvez estejamos na hora de reciclar para voltar a boa forma. Deadpool veio para salvar a péssima fase, é o messias que a Disney precisava.